Um escândalo que abalou a Polícia Estadual de Massachusetts começa a ser julgado esta semana em um tribunal federal em Boston. O caso envolve um esquema de corrupção que permitiu que dezenas de pessoas recebessem carteira de motorista comercial (CDL) sem terem passado nas provas — e, em alguns casos, sem sequer terem feito o teste.
O principal réu é Gary Cederquist, ex-sargento da polícia estadual, acusado de liderar o esquema enquanto comandava a unidade responsável pelos testes de habilitação comercial em Stoughton. Segundo os promotores, ele teria recebido diversos benefícios em troca de aprovar candidatos de forma fraudulenta — desde um novo calçamento na entrada de sua casa até café, doces e água mineral.
O julgamento de Cederquist começa com a seleção do júri nesta segunda-feira. Outros envolvidos, como o ex-policial Joel Rogers e Scott Camara, funcionário de uma autoescola em Brockton, fecharam acordos com a Justiça e não irão mais a julgamento. Camara deve se declarar culpado e Rogers terá o processo suspenso mediante o cumprimento de certas condições.
Segundo a acusação, o esquema funcionou por pelo menos cinco anos e beneficiou mais de 20 pessoas. Entre os favorecidos estavam familiares de policiais, bombeiros e até outros membros da própria polícia estadual. Mensagens de texto trocadas entre os envolvidos mostram que alguns candidatos foram chamados de “idiota”, “bagunça” e até “sem cérebro”, mas ainda assim receberam aprovação.
Em um dos casos, o filho de um comerciante recebeu aprovação mesmo sem ter feito o exame, depois que o pai doou um soprador de neve de US$ 1.800 para Cederquist. Em outro episódio, uma empresa de asfalto forneceu material para a entrada da casa do policial, avaliado em mais de US$ 10 mil. Pouco depois, o filho de um dos sócios da empresa teve sua habilitação “aprovada” e enviada pelo correio, sem passar por qualquer teste.
O caso é considerado por especialistas um dos mais graves já enfrentados pela Polícia Estadual de Massachusetts, superando até escândalos anteriores de fraudes em horas extras. “Estamos falando de pessoas sem preparo dirigindo caminhões e ônibus nas nossas estradas. Isso coloca vidas em risco”, afirmou o advogado Howard Friedman, especialista em má conduta policial.
A acusação também aponta que o próprio Cederquist recebeu uma licença comercial sem fazer o teste, assim como outros colegas da corporação. Um ex-policial que recebeu imunidade deve testemunhar que foi instruído por Cederquist a aprovar candidatos sem avaliação real — prática que os envolvidos chamavam de “aperto de mão dourado”.
O caso envolve um total de 74 acusações, incluindo conspiração, falsificação de documentos e suborno. Três outros réus já se declararam culpados e aguardam sentença.
O julgamento promete trazer à tona novas revelações sobre a cultura de favorecimento e corrupção dentro da polícia estadual, além de reforçar a necessidade de fiscalização mais rigorosa em processos de habilitação que envolvem veículos pesados e transporte público.
Foto: David L. Ryan/Equipe Globe