Crise de abusos sexuais continua abalando a Igreja Católica, mesmo após pontificado do Papa Francisco

VATICANO — Apesar dos esforços do Papa Francisco para enfrentar os casos de abuso sexual dentro da Igreja Católica, o problema continua afetando profundamente a instituição, especialmente em regiões como África, Ásia e América Latina. O desafio segue como uma das maiores crises enfrentadas pelo Vaticano e promete impactar também os futuros papados.

Francisco, que assumiu o pontificado em 2013, foi o primeiro papa a reconhecer publicamente a gravidade sistêmica dos abusos. Ele fez reuniões com vítimas, criou novas diretrizes para apurar denúncias e exigiu que dioceses montassem estruturas específicas para receber e investigar os casos. Também obrigou padres e freiras a relatarem acusações às autoridades eclesiásticas, algo inédito até então.

Um dos marcos de sua gestão foi a punição exemplar do cardeal americano Theodore McCarrick, acusado de décadas de abusos. Ele foi expulso do sacerdócio e teve sua trajetória detalhada em um extenso relatório interno do Vaticano.

Apesar dos avanços, especialistas e vítimas apontam que a Igreja ainda falha em ser transparente e consistente. Muitas dioceses não implementaram os escritórios prometidos, e as investigações contra altos membros do clero continuam ocorrendo de forma sigilosa. Em diversos casos, punições são mantidas em segredo, o que dificulta o acesso das vítimas à verdade e à justiça.

Segundo o arcebispo Charles Scicluna, membro do departamento do Vaticano responsável por lidar com as denúncias, o Vaticano ainda recebe cerca de 800 novos casos por ano, vindos de países como Polônia, Itália e vários da América Latina e Ásia. O número mostra que a crise está longe de ser resolvida.

A preocupação agora é que novas denúncias em regiões onde a Igreja Católica ainda cresce rapidamente — como África e Ásia — possam abalar ainda mais a credibilidade da instituição, especialmente entre os fiéis mais jovens.

Críticos também apontam que, nos últimos anos de seu pontificado, Francisco deu menos atenção ao tema, mesmo após prometer uma “batalha total” contra os abusos. Durante o Sínodo da Igreja, realizado ao longo de dois anos e encerrado em 2024, o assunto sequer foi um dos focos principais — o que gerou frustração entre vítimas e organizações de apoio.

Para muitos, o combate ao abuso sexual continua sendo o maior desafio moral da Igreja Católica. E, embora o Papa Francisco tenha deixado uma base legal mais sólida, resta saber se ela será aplicada de forma eficaz no futuro.

Como disse o padre Hans Zollner, especialista em proteção de crianças dentro da Igreja: “Uma coisa é ter leis e estruturas. Outra é garantir que funcionem na prática.”

Foto: Christophe Petit Tessos/EPA, Via Shutterstock

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