Apesar de ter um dos maiores números de médicos por habitante nos Estados Unidos, o estado de Massachusetts enfrenta uma escassez preocupante de profissionais na área de atenção primária. Esse tipo de atendimento é o primeiro contato que muitas pessoas têm com o sistema de saúde e é essencial para prevenir doenças e evitar visitas desnecessárias a prontos-socorros.
A situação tem se agravado com o passar dos anos. Muitos médicos mais experientes estão se aposentando, e poucos recém-formados estão escolhendo seguir carreira na atenção primária. Entre os principais motivos estão a remuneração mais baixa em comparação com outras especialidades, o excesso de burocracia e o desgaste emocional da profissão.
Para enfrentar esse desafio, autoridades estaduais estão se mobilizando. Uma força-tarefa com 25 membros foi criada para estudar o problema e propor soluções. O grupo, liderado pelo diretor executivo da Comissão de Políticas de Saúde de Massachusetts, David Seltz, vai trabalhar em conjunto com o governo estadual, legisladores, profissionais da saúde e representantes da sociedade civil.
Entre as propostas em discussão estão o aumento dos investimentos em atenção primária, a redução da carga administrativa que recai sobre os médicos e a ampliação do papel de outros profissionais da saúde, como enfermeiros e assistentes médicos. Também está sendo avaliada a criação de um novo modelo de pagamento que valorize mais esse tipo de cuidado.
A senadora estadual Cindy Friedman, que preside o Comitê de Financiamento da Saúde, defende que o estado invista mais na formação de profissionais e na criação de residências médicas específicas para atenção primária. Ela também é autora do projeto de lei “Primary Care For You”, que busca ampliar o acesso e melhorar a qualidade desse serviço. A proposta prevê, entre outras medidas, que até 2030 pelo menos 12% dos gastos em saúde sejam destinados à atenção primária — atualmente, esse valor gira em torno de 6 a 7%.
A governadora Maura Healey também colocou o tema como prioridade em sua gestão e já aprovou medidas importantes, como permitir que médicos formados no exterior e residentes em Massachusetts possam atuar sem precisar repetir a residência médica no país. Além disso, está em debate uma legislação que daria mais autonomia a assistentes médicos experientes, eliminando a exigência de supervisão constante.
Especialistas alertam que o problema não será resolvido de forma rápida. No entanto, eles defendem que é preciso começar agora a mudança, para que no futuro o sistema de saúde seja mais eficiente, acessível e centrado no cuidado contínuo das pessoas.
“Quanto mais demorarmos para agir, mais difícil será reverter esse cenário”, afirmou a senadora Friedman. “A atenção primária é uma necessidade universal e deve ser tratada com a importância que merece.”
Foto: John Tlumacki/Globe Staff