Nos últimos meses, o setor agrícola dos Estados Unidos, que historicamente emprega um grande número de trabalhadores sem status legal, vinha sendo poupado das operações de deportação em massa promovidas pela administração Trump. No entanto, essa realidade começou a mudar com uma série de batidas do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega), que agora também estão atingindo fazendas e frigoríficos.
No dia 11 de junho, mais de 70 pessoas foram presas em uma planta de processamento de carne em Omaha, Nebraska. No mesmo dia, agentes federais também realizaram ações em fazendas ao norte de Los Angeles. As prisões causaram preocupação entre trabalhadores e empregadores do setor, que agora vivem com medo de novas operações.
Apesar de o presidente Donald Trump ter declarado que não pretende prejudicar os agricultores — afirmando que “não podemos tirar todos os trabalhadores deles” —, membros de sua equipe têm adotado um tom mais rígido. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que ninguém está acima da lei e que manter imigrantes sem documentos em empregos é “ridículo”. Já o conselheiro de fronteira da Casa Branca, Tom Homan, prometeu intensificar as fiscalizações nos locais de trabalho.
A secretária de Agricultura, Brooke Rollins, também se manifestou nas redes sociais, apoiando a política de deportações e reconhecendo que a retirada de trabalhadores pode afetar a cadeia de abastecimento de alimentos. Segundo ela, “levará tempo para resolver esse problema, mas estamos priorizando as deportações de forma estratégica”.
A situação tem gerado reações até mesmo entre os empregadores, que passaram a buscar orientação jurídica para proteger suas propriedades. Elizabeth Strater, da organização United Farm Workers, relatou que alguns produtores se recusaram a permitir a entrada de agentes federais sem mandado judicial. Ela também destacou que, apesar das promessas de proteção aos trabalhadores agrícolas, as prisões continuam acontecendo, inclusive em comunidades rurais da Califórnia.
Enquanto isso, representantes do setor agrícola têm pressionado o Congresso por mudanças no sistema de vistos. Atualmente, a principal opção é o visto H-2A, voltado para trabalhadores sazonais. No entanto, ele não atende a todos os segmentos, como as fazendas de laticínios, que precisam de mão de obra o ano todo. Além disso, o programa exige que os empregadores ofereçam moradia, transporte e assistência médica, o que eleva os custos.
Mike McCarthy, da Federação de Agricultores do Oregon, afirma que o custo total para manter um trabalhador no campo pode chegar a US$ 39 por hora, valor que muitas vezes não é coberto pelos preços pagos pelas colheitas. Ele teme que a escassez de mão de obra leve a uma nova crise de abastecimento, como a vivida durante a pandemia.
Mesmo com o aumento das operações, muitos agricultores ainda esperam que o governo reconheça a importância do setor para a economia rural. No entanto, ativistas como Strater alertam que ninguém está imune. “Essa disposição de entrar em comunidades agrícolas e aterrorizar todos, independentemente do status legal, deveria ser um alerta para quem ainda acredita que o setor será poupado”, afirmou.
Apesar do medo, ela diz que os trabalhadores continuam indo para o campo. “Eles podem mudar seus hábitos, ficar mais cautelosos, mas vão continuar trabalhando”, concluiu.
Foto: John Moore/Getty Images