A organização sem fins lucrativos Road to Responsibility, que atende pessoas com deficiência no sudeste de Massachusetts, está enfrentando uma crise: mais de 100 de seus funcionários, em sua maioria haitianos, podem perder o direito de permanecer e trabalhar nos Estados Unidos. A mudança ocorre após uma decisão da Suprema Corte que permitiu ao governo Trump encerrar um programa de imigração criado durante a gestão Biden.
Esses trabalhadores chegaram ao país legalmente por meio do programa de liberdade condicional humanitária conhecido como CHNV, que desde 2022 permitiu a entrada de mais de meio milhão de pessoas de países como Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela. Agora, com a revogação do programa, muitos estão recebendo notificações de que seu status legal foi cancelado — mas os empregadores ainda não sabem como agir.
Chris White, diretor executivo da Road to Responsibility, afirma que não recebeu nenhuma orientação oficial sobre o que fazer com os funcionários afetados. “Não queremos violar nenhuma lei, mas também não sabemos como proceder”, disse.
A situação é especialmente delicada porque esses trabalhadores são essenciais para o funcionamento da organização. Eles prestam cuidados diretos a pessoas com deficiências físicas e intelectuais, ajudando com tarefas como alimentação, higiene, locomoção, atividades terapêuticas e até mesmo lazer. Muitos clientes dependem desses profissionais para manter uma rotina segura e saudável.
Além disso, a organização já enfrenta dificuldades para contratar pessoal. Cerca de 60% dos 800 funcionários da Road to Responsibility nasceram fora dos EUA, e os imigrantes têm sido fundamentais para recuperar os níveis de atendimento após a pandemia. Se perder mais de 100 trabalhadores, a entidade pode ser forçada a cortar programas, operar com equipes reduzidas e até recorrer a horas extras e agências temporárias — que também empregam muitos imigrantes.
A incerteza jurídica também preocupa. Como os documentos de trabalho não indicam claramente se o funcionário veio pelo CHNV ou por outro tipo de entrada, os empregadores correm o risco de serem responsabilizados por manter trabalhadores sem autorização — ou de cometer discriminação ao tentar descobrir mais detalhes.
Enquanto isso, o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) orienta os imigrantes afetados a retornarem voluntariamente aos seus países de origem, oferecendo até ajuda financeira para isso. Mas para muitos, essa não é uma opção viável.
A situação também afeta o bem-estar dos próprios clientes da organização. Sem a presença constante de cuidadores com quem já têm vínculo, muitos podem regredir em seu desenvolvimento ou até ficar sem atendimento adequado.
“Nosso pessoal está com medo”, disse White. “Essas são pessoas boas, trabalhadoras, que pagam impostos, seguem as regras e ocupam funções que ninguém mais quer. Perdê-las seria um desastre.”
Foto: Eric Thayer/Associated Press