A recente escalada de tensões entre Estados Unidos e Irã reacendeu preocupações sobre a capacidade do país de prevenir ataques terroristas em solo americano. Especialistas e autoridades alertam que a administração do presidente Donald Trump priorizou políticas de imigração em detrimento do combate ao terrorismo, o que pode ter deixado os EUA mais vulneráveis a ameaças externas.
Após ordenar ataques aéreos contra o programa nuclear iraniano, o governo americano recebeu ameaças diretas de Teerã, incluindo a possível ativação de “células adormecidas” para realizar atentados dentro do país. A resposta iraniana levantou questionamentos sobre a prontidão dos EUA diante dessas ameaças, especialmente em um momento em que recursos federais vêm sendo redirecionados para ações de imigração.
Desde o início do governo Trump, houve uma mudança significativa na alocação de agentes do FBI. Muitos foram transferidos de áreas como contraterrorismo e crimes financeiros para atuar em ações de fiscalização imigratória. Em algumas das maiores unidades do FBI no país, quase metade dos agentes passou a se dedicar à imigração, segundo a NBC News. O escritório de Boston, por exemplo, foi instruído a realocar 33 agentes para essa nova prioridade.
Essa mudança de foco também se refletiu simbolicamente. Antes, o site do FBI destacava como prioridade número um “Proteger os EUA de ataques terroristas”. Sob a liderança de Kash Patel, aliado de Trump, a nova prioridade passou a ser “Combater o crime violento”, deixando “Defender a pátria” em segundo plano.
Em meio a esse cenário, o deputado democrata Seth Magaziner, de Rhode Island, que integra o Comitê de Segurança Interna da Câmara, criticou duramente a mudança de prioridades. “Vocês viram, sob o governo Trump, uma mudança de recursos do contraterrorismo… para se concentrar nas deportações em massa que eles vêm buscando, e eu acredito que isso coloca os americanos em maior risco”, afirmou.
A preocupação de especialistas vai além da realocação de pessoal. O Departamento de Justiça perdeu cerca de 4.000 funcionários após programas de demissão voluntária promovidos pela administração Trump, e há planos para cortar mais 1.500 cargos no FBI. A Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura (CISA), criada em 2018 para lidar com ameaças digitais, também perdeu parte significativa de sua equipe e pode sofrer novos cortes.
Para Chris Painter, ex-funcionário de cibersegurança da Casa Branca e do Departamento de Estado, essas mudanças podem ter consequências sérias. “Ainda há pessoas qualificadas no FBI e na comunidade de inteligência, mas há consequências quando você reduz significativamente essas atividades e prioriza outras áreas”, alertou.
Steven A. Cook, especialista em Oriente Médio do Conselho de Relações Exteriores, também demonstrou preocupação com o redirecionamento de recursos. “Com base no que li, parece que estamos menos preparados do que antes como resultado do foco na fiscalização da imigração”, afirmou.
Enquanto aliados de Trump defendem que o combate à imigração ilegal contribui para a segurança nacional, críticos argumentam que a redução do foco em contraterrorismo ocorre em um momento de grande instabilidade geopolítica e ameaça crescente de regimes como o iraniano. Como disse Alex Plitsas, do Atlantic Council: “Os terroristas só precisam acertar uma vez. Nós precisamos acertar todas as vezes.”
Foto: Michael M. Santiago/Getty