A ONU fez um alerta preocupante nesta quinta-feira: os cortes na ajuda internacional dos Estados Unidos podem desfazer décadas de conquistas no combate à AIDS em todo o mundo.
Segundo um novo relatório do UNAIDS, cerca de 31,6 milhões de pessoas estavam em tratamento com antirretrovirais em 2024. Desde 2010, o número de mortes causadas por doenças relacionadas à AIDS caiu pela metade, chegando a 630 mil no ano passado. No entanto, esse progresso corre sério risco.
Com o fim repentino de parte da ajuda humanitária dos EUA, decidido em fevereiro pelo presidente Donald Trump, muitos programas de prevenção e tratamento estão sendo interrompidos. O UNAIDS alerta que isso pode causar um aumento no número de novas infecções e mortes nos próximos anos.
“Estamos orgulhosos dos avanços que alcançamos, mas muito preocupados com essa interrupção repentina, que pode reverter tudo que foi conquistado,” afirmou Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS.
Um dos principais programas afetados é o PEPFAR, iniciativa dos EUA que vinha sendo essencial no combate ao HIV em diversos países. A estimativa é que, sem esse apoio, o mundo poderá registrar mais de 6 milhões de novas infecções e 4,2 milhões de mortes relacionadas à AIDS até 2029 — números que remontam aos piores momentos da epidemia nos anos 2000.
O impacto já está sendo sentido: na Nigéria, o número de pessoas que recebem o medicamento PrEP, usado para prevenir a infecção pelo HIV, caiu mais de 85% apenas nos primeiros meses de 2025. Além disso, mais de 60% das organizações lideradas por mulheres que atuam no combate ao HIV perderam financiamento ou precisaram suspender suas atividades.
A diretora do UNAIDS também destacou que países como a África do Sul, que têm altos índices de HIV e lideram pesquisas sobre o vírus, estão sofrendo com o fechamento de estudos importantes. Em 25 dos 60 países pesquisados, os governos tentam compensar parte das perdas com recursos próprios, mas o cenário continua desafiador.
Winnie Byanyima conclui lembrando que os avanços no combate à AIDS transformaram a doença, que antes matava diariamente, em uma condição crônica tratável. Para ela, os investimentos feitos até aqui salvaram vidas — e ainda salvam. Mas sem apoio financeiro global, todo esse esforço pode ser perdido.
Foto: Phill Magakoe / AFP/Arquivo
Fonte: France 24