Governo dos EUA quer expandir modelo de centro de detenção “Alligator Alcatraz” para outros estados

Por Nicole Sganga – CBS News

A secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, afirmou em entrevista à CBS News que o centro de detenção conhecido como “Alligator Alcatraz”, na Flórida, servirá de modelo para novas instalações estaduais voltadas à detenção de imigrantes em situação irregular. A proposta é expandir esse tipo de centro para aeroportos e prisões em diversos estados, com locais já sendo avaliados no Arizona, Nebraska e Louisiana.

Segundo Noem, a proximidade com pistas de pouso permitirá maior agilidade nos processos de deportação, reduzindo custos e tempo de permanência dos detidos. “Estamos buscando eficiência como nunca antes”, declarou, acrescentando que já entrou em contato com governadores e líderes estaduais para avaliar o interesse em aderir ao programa da administração Trump.

O modelo se baseia no centro inaugurado no mês passado no Aeroporto de Treinamento e Transição Dade-Collier, no sul da Flórida. A instalação temporária, apelidada de “Alligator Alcatraz” por autoridades estaduais e federais, foi construída em apenas oito dias e conta com tendas e trailers cercados por 39 milhas quadradas de pântano isolado, repleto de fauna selvagem. O custo estimado de operação no primeiro ano é de US$ 450 milhões.

Durante visita ao local, o presidente Donald Trump brincou com repórteres, dizendo que os detidos aprenderiam a fugir de jacarés caso tentassem escapar. Ele também afirmou que gostaria de ver centros semelhantes em “muitos estados”.

Apesar do entusiasmo da secretária, o gabinete do governador do Arizona informou à CBS News que ainda não foi procurado formalmente sobre a criação de uma unidade estadual.

Noem defende que o modelo é superior ao atual, que depende majoritariamente de contratos com prisões privadas e cadeias locais. Segundo ela, o custo por cama no centro da Flórida é de US$ 245 por noite, valor que considera mais econômico do que contratos anteriores do Departamento de Segurança Interna (DHS). Para comparação, o custo médio diário de detenção de um adulto em 2024 foi de aproximadamente US$ 165, segundo o Escritório de Estatísticas de Segurança Interna.

A secretária argumenta que os novos centros, por estarem próximos a aeroportos, permitirão “giros rápidos”, com menos tempo de detenção. “Eles são estrategicamente projetados para que as pessoas fiquem menos dias detidas”, afirmou.

Diferente do centro da Flórida, que utiliza recursos da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA), os novos centros estaduais serão financiados por um fundo de US$ 45 bilhões aprovado recentemente por meio de uma lei sancionada por Trump. O objetivo é quase dobrar a capacidade de camas da ICE, que atualmente é de 61 mil. No sábado anterior à entrevista, a agência mantinha pouco mais de 57 mil pessoas detidas em mais de 150 instalações pelo país.

Noem também implementou uma política interna no DHS que exige sua aprovação pessoal para todos os contratos e subsídios acima de US$ 100 mil. Ela defende contratos de curta duração, com menos de cinco anos. O “Alligator Alcatraz”, por exemplo, tem contrato de um ano, renovável. “Se ainda estivermos construindo e processando 100 mil camas de detenção daqui a 15 anos, então falhamos em nossa missão”, disse.

Essa abordagem contrasta com acordos anteriores da própria administração Trump. Em fevereiro, por exemplo, a ICE assinou um contrato de 15 anos no valor de US$ 1 bilhão com a empresa privada GEO Group para reabrir o centro de detenção Delaney Hall, com mil camas, um dos maiores do nordeste dos EUA.

Apesar disso, Noem nega que o governo esteja se afastando do modelo privado. “Esses são contratos competitivos. Quero todos na mesa, oferecendo soluções. Só quero contratos que realmente funcionem, que não mantenham pessoas presas apenas para gerar lucro.”

O centro “Alligator Alcatraz” também enfrenta críticas. Advogados acusam os governos de Trump e DeSantis de manterem detidos sem acusação formal ou acesso à Justiça, o que violaria direitos constitucionais. Alegam ainda que os migrantes não têm como contestar legalmente sua detenção.

Especialistas questionam a legalidade de centros estaduais de detenção de imigrantes, já que a responsabilidade por esse tipo de ação é federal. A abertura do centro na Flórida, com base em poderes emergenciais do estado, representa uma mudança significativa nesse modelo. Um juiz federal exigiu que autoridades estaduais e federais apresentem o contrato que define quem está no comando da instalação.

“Um estado não tem autoridade legal para deter imigrantes sem contrato com a ICE”, afirmou Kevin Landy, ex-diretor de políticas de detenção da agência durante o governo Obama.

Detidos no centro também relataram condições insalubres, como comida com larvas, restrições religiosas e acesso limitado a advogados e água potável. As autoridades da Flórida negam as acusações.

Apesar das críticas, Noem admite que a localização remota do centro na região dos Everglades, a 72 quilômetros de Miami, tem um propósito simbólico. “Definitivamente, é uma mensagem. O presidente Trump quer que saibam: se você é um criminoso violento e está ilegalmente no país, haverá consequências.”

A secretária acredita que a estratégia de dissuasão é eficaz, com base em informações de agências de inteligência dos EUA e de países da América Latina. Segundo ela, muitos migrantes estão retornando voluntariamente por medo de perder a chance de entrar legalmente no futuro.

Em março, Noem se reuniu com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e perguntou quantos cidadãos haviam retornado voluntariamente. Segundo ela, Sheinbaum estimou entre 500 mil e 600 mil desde o início do governo Trump.

Noem também relatou conversa semelhante com o presidente do Equador, Daniel Noboa, durante um almoço em Quito. Ele teria estimado que mais de 100 mil equatorianos voltaram ao país, impulsionados por melhorias econômicas e por uma campanha televisiva do DHS que alerta sobre os riscos de permanecer ilegalmente nos EUA.

“Ele está orgulhoso da economia do país. Disse que há empregos. Mas também mencionou que nossos anúncios estão no ar no Equador, dizendo às famílias que, se têm parentes ilegais nos EUA, é hora de voltar para casa”, concluiu Noem.

Foto: Joe Raedle / Getty Images

Fonte: CBS News

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