Por Trevor Hughes e Lauren Villagran – USA TODAY
Uma operação federal realizada no início de setembro em uma fábrica de baterias da Hyundai, localizada a cerca de 50 quilômetros de Savannah, na Geórgia (EUA), resultou na detenção de quase 500 trabalhadores, a maioria cidadãos sul-coreanos que não tinham autorização legal para trabalhar no país. A ação faz parte de uma nova frente do governo Trump, que, além de intensificar deportações, tem mirado empresas que contratam imigrantes em situação irregular.
A fábrica pertence à HL-GA Battery Company, que fornece baterias para a montadora Hyundai e está ligada a um projeto de expansão industrial que recebeu milhões em incentivos fiscais estaduais e locais, com a promessa de geração de milhares de empregos. No entanto, segundo autoridades, a contratação de trabalhadores estrangeiros sem permissão legal pode comprometer esses objetivos.
“Recebemos bem todas as empresas que querem investir nos Estados Unidos, mas elas precisam seguir as leis de imigração”, afirmou Steven Schrank, agente especial responsável pela operação, em entrevista coletiva. “Essa ação envia uma mensagem clara: quem explora o sistema e prejudica nossa força de trabalho será responsabilizado.”
A investigação que levou à operação durou vários meses e foi motivada, em parte, por denúncias de sindicatos locais sobre a presença de estrangeiros ocupando vagas de trabalho. Apesar disso, documentos judiciais indicam que os únicos alvos nomeados no mandado de busca tinham nomes hispânicos, e não havia evidências prévias de que centenas de sul-coreanos estivessem no local.
Até o momento, apenas os trabalhadores detidos enfrentam consequências diretas. Eles foram levados a centros de detenção migratória e devem ser deportados. O governo sul-coreano afirmou estar em contato com o Departamento de Estado dos EUA para organizar a repatriação voluntária de cerca de 300 cidadãos, possivelmente por meio de voos fretados a partir de 10 de setembro.
O tratamento dado aos trabalhadores sul-coreanos contrasta com o de imigrantes de países como México, Venezuela e Guatemala, que frequentemente enfrentam longos períodos em centros de detenção antes de serem deportados à força.
A ação na fábrica da Hyundai chama atenção por ocorrer em um momento em que operações desse tipo vinham sendo raras. Segundo registros do Departamento de Investigações de Segurança Interna (HSI), investigações contra empregadores podem levar anos até resultarem em processos judiciais. No entanto, o governo Trump tem acelerado esse tipo de ação, com aplicação de multas milionárias e abertura de processos criminais contra empresas em diversos estados.
Desde janeiro, o governo já realizou operações em lavagens de carros e fazendas de maconha na Califórnia, um hipódromo na Louisiana, um canteiro de obras na Flórida e uma planta de processamento de carne em Nebraska. Em alguns casos, as empresas sofreram grandes interrupções em suas operações.
Embora a lei federal preveja multas de até US$ 3 mil e penas de até seis meses de prisão para empregadores que contratem trabalhadores sem documentação, essas penalidades raramente são aplicadas. Segundo o professor Brian Owsley, da Faculdade de Direito da Universidade do Norte do Texas, houve menos de 200 processos federais contra empregadores por esse motivo na última década.
O sistema federal E-Verify, criado para ajudar empresas a verificar a elegibilidade de seus funcionários, não é obrigatório em todos os estados e pode ser burlado com documentos falsificados. Em um caso recente no Maine, um policial foi contratado após ser aprovado pelo E-Verify, mas depois descobriu-se que estava ilegalmente no país.
Em abril, o governo Trump multou duas empresas de limpeza no Colorado em US$ 6,2 milhões e US$ 1 milhão, respectivamente, por contratarem dezenas de trabalhadores sem autorização. Também houve apreensão de propriedades e contas bancárias de uma empresa chinesa acusada de fornecer mão de obra ilegal a uma fábrica em Ohio.
Apesar desses casos, Owsley observa que grandes empresas raramente enfrentam consequências legais. “As leis existem, mas geralmente são aplicadas contra empregadores com ‘e’ minúsculo — pequenos negócios, restaurantes locais. Não são as Hyundais ou Tysons do mundo”, afirmou.
Durante coletiva em 5 de setembro, Schrank explicou que ainda está sendo apurado quem exatamente contratou os trabalhadores ilegais na fábrica da Geórgia. “Havia uma rede de subcontratadas e subcontratadas das subcontratadas no local. Os funcionários estavam vinculados a diferentes empresas, não apenas à empresa principal. A investigação continua para identificar quem trabalhava para quem”, disse.
Em declaração nas redes sociais, o presidente Donald Trump reconheceu que sua política migratória pode dificultar os esforços para revitalizar a indústria americana, mas reforçou a necessidade de respeitar as leis. “Incentivamos empresas estrangeiras a trazer seus talentos legalmente. Em troca, pedimos que contratem e treinem trabalhadores americanos”, afirmou.
O conselheiro de imigração Tom Homan foi mais direto: “Vamos intensificar as fiscalizações nos locais de trabalho. Ninguém contrata imigrantes ilegais por bondade. Eles os contratam porque podem pagar menos, exigir mais e competir de forma desleal com quem emprega cidadãos americanos.”
Foto: Mike Stewart
Fonte: USA Today