Por ELINA SHIRAZI, REPÓRTER POLÍTICA SÊNIOR DOS EUA – Daily Mail
A administração Trump iniciou o uso de inteligência artificial (IA) para revisar o histórico de mais de 55 milhões de estrangeiros com visto nos Estados Unidos, em uma operação que pode se tornar a maior ação de fiscalização migratória da história do país.
Apesar do número elevado divulgado, ex-funcionários do Departamento de Estado afirmam que o objetivo real é provocar um efeito psicológico, incentivando a saída voluntária de pessoas que sabem estar em situação irregular. “Eles não precisam analisar 55 milhões de pessoas. Basta dizer que o monitoramento será amplo para que quem está irregular decida sair antes de ser localizado e punido”, explicou um ex-funcionário ao Daily Mail.
O Departamento de Estado confirmou que todos os portadores de visto passarão por uma “análise contínua”, que inclui a verificação de possíveis violações, como permanência além do prazo permitido, envolvimento em crimes ou atividades ligadas ao terrorismo. Perfis em redes sociais e registros migratórios dos países de origem também serão examinados.
A medida foi anunciada poucos dias após o governo restringir o acesso a vistos de estudante e reduzir em 20% o quadro de funcionários do Departamento de Estado, tornando a dependência da IA ainda mais necessária. “Não é uma questão de pessoal, especialmente após os cortes. É uma questão de capacidade tecnológica”, disse o ex-funcionário, questionando se a IA será capaz de cruzar corretamente os dados de 55 milhões de pessoas com os critérios exigidos.
Especialistas em migração alertam que o uso de sistemas automatizados pode levar à deportação injusta de pessoas. Segundo funcionários demitidos recentemente, a tecnologia já está sendo usada para restringir vistos de estudantes.
Um funcionário do Departamento de Estado relatou que, apesar do anúncio de análise de todos os titulares de visto, a prioridade será dada a determinados países, sem revelar quais. A estratégia surpreendeu até mesmo servidores atuais: “Isso parece insano. Ainda bem que não trabalho no setor consular”, comentou um deles ao Daily Mail.
Para Julia Gelatt, do Migration Policy Institute, falta transparência no processo. Ela compara a iniciativa a um sistema já utilizado pelo ICE, que monitora continuamente dados de pessoas em situação irregular. Gelatt destaca que bancos de dados governamentais podem ser incompletos, o que aumenta o risco de erros, como a revogação de vistos por engano ou por motivos políticos.
Casos recentes ilustram as falhas do sistema. Em abril, o estudante japonês Suguru Onda, da BYU, teve o visto cancelado por engano devido a uma multa de pesca e infrações de trânsito, apesar de não ter antecedentes criminais. Segundo seu advogado, as autoridades não revisam adequadamente os casos sinalizados pela IA.
O analista de tecnologia Rob Enderle afirma que a chance de erros graves é alta, já que os sistemas priorizam a rapidez em detrimento da precisão. “Isso pode resultar tanto na deportação injusta de alguém quanto na permanência de quem não deveria estar no país”, alerta.
O caso da estudante turca Rümeysa Öztürk, da Tufts University, também chamou atenção: ela foi presa por agentes do DHS após ter o visto revogado e transferida para um centro de detenção, gerando críticas de parlamentares e grupos de direitos civis.
Um funcionário do Departamento de Estado declarou à Fox News que “todo visto de estudante revogado sob o governo Trump ocorreu porque o indivíduo quebrou a lei ou expressou apoio ao terrorismo”.
Desde janeiro, cerca de 6 mil vistos de estudante foram cancelados, sendo 4 mil de estrangeiros que violaram a lei, segundo o Departamento de Estado. Dados do Departamento de Segurança Interna indicam que, no ano passado, havia quase 13 milhões de residentes permanentes (green cards) e cerca de 4 milhões de pessoas com vistos temporários nos EUA.
Foto: Anadolu via Getty Images
Fonte: Daily Mail