Por Kay Lazar e Sarah Rahal – Boston Globe
O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira que mulheres grávidas deveriam evitar o uso de Tylenol (acetaminofeno) para dor e febre, alegando que o medicamento pode aumentar o risco de autismo em crianças. A declaração foi feita durante uma coletiva na Casa Branca, ao lado de líderes de agências de saúde do governo, e gerou reação imediata da comunidade médica e científica.
Trump anunciou que a FDA irá notificar médicos sobre um suposto risco elevado de autismo associado ao uso de acetaminofeno durante a gravidez, apesar de não haver consenso científico sobre essa relação. A preocupação ganhou destaque após um estudo recente de pesquisadores de Massachusetts e Nova York, que analisou 46 pesquisas anteriores e sugeriu uma possível ligação entre o uso prolongado do medicamento na gestação e o desenvolvimento de distúrbios neurodesenvolvimentais, incluindo autismo e TDAH. No entanto, a principal autora do estudo, Dra. Andrea Baccarelli, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, destacou que a associação é mais forte quando o uso se prolonga por quatro semanas ou mais, e que a pesquisa ainda não é conclusiva.
A pesquisadora Ann Z. Bauer, da University of Massachusetts Lowell, coautora do estudo, afirmou que, apesar de ser válido alertar sobre o uso do medicamento, não existem alternativas seguras para tratar dor e febre durante a gravidez, já que aspirina e ibuprofeno não são recomendados nesse período.
Diversas entidades de saúde responderam rapidamente às declarações de Trump. A Society for Maternal-Fetal Medicine reiterou que o acetaminofeno continua sendo considerado seguro para tratar dor e febre durante a gravidez, e defendeu mais pesquisas sobre as causas do autismo.
O secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., também presente na coletiva, anunciou que sua gestão está priorizando pesquisas sobre deficiência de folato em crianças autistas e sobre o uso do medicamento leucovorina, que alguns estudos indicam poder melhorar a comunicação verbal em crianças com autismo. O administrador dos Centros de Medicare & Medicaid Services, Dr. Mehmet Oz, afirmou que a FDA irá aprovar a leucovorina como tratamento para autismo, tornando-se o primeiro medicamento reconhecido para essa finalidade. No entanto, especialistas como a professora Helen Tager-Flusberg, da Boston University, alertam que os estudos sobre leucovorina ainda são preliminares e que são necessárias pesquisas mais amplas e rigorosas para comprovar sua eficácia.
A Coalizão de Cientistas do Autismo, liderada por Tager-Flusberg, divulgou nota afirmando que não há evidências de que Tylenol cause autismo ou que leucovorina seja uma cura, e que declarações precipitadas podem gerar medo e falsas esperanças.
O Instituto Nacional de Saúde (NIH) também anunciou a concessão de bolsas para 13 projetos de pesquisa dentro da Autism Data Science Initiative, programa de US$ 50 milhões que busca acelerar a compreensão das causas e tratamentos do autismo, incluindo fatores ambientais, nutricionais e genéticos.
Segundo o CDC, o número de diagnósticos de autismo segue em alta nos Estados Unidos, com um em cada 31 crianças de 8 anos recebendo o diagnóstico em 2022. Especialistas ressaltam que as causas do autismo são complexas e envolvem múltiplos fatores, não se restringindo apenas ao que é consumido durante a gravidez.
Foto: Meir Chaimowitz/NurPhoto/Shutterstock
Fonte: Boston Globe