Por Andy Rose e Alisha Ebrahimji – CNN
A tensão entre o presidente Donald Trump e cidades governadas por democratas nos Estados Unidos atinge um novo patamar, com a mobilização de tropas da Guarda Nacional próxima a Chicago e a preparação de audiências judiciais decisivas a milhares de quilômetros de distância.
A administração Trump relaciona as implantações planejadas em Chicago e Portland, Oregon, a protestos cada vez mais intensos em frente a instalações do Immigration and Customs Enforcement (ICE), além de citar o tiroteio ocorrido em uma unidade do ICE em Dallas, onde dois detentos foram mortos. Trump classificou o episódio como um ataque contra agentes da lei.
Na quarta-feira, o presidente intensificou suas críticas ao prefeito de Chicago, Brandon Johnson, e ao governador democrata JB Pritzker, que no fim de semana chamou a convocação da Guarda Nacional de “invasão de Trump”.
“Prefeito de Chicago deveria estar preso por não proteger os oficiais do ICE! Governador Pritzker também!”, escreveu Trump na rede social Truth Social.
Em resposta, ambos os líderes se manifestaram na plataforma X na manhã de quarta-feira. O prefeito Johnson afirmou em entrevista à CNN que não é a primeira vez que Trump pede a prisão injusta de um homem negro e garantiu que permanecerá firme no comando da cidade. Já Pritzker declarou que não pretende recuar e questionou se o próximo passo de Trump é o autoritarismo pleno, denunciando ações de agentes mascarados que estariam prendendo pessoas nas ruas, separando crianças de seus pais e espalhando medo.
A determinação de Trump em usar a força militar se reflete não só nas disputas judiciais, mas também nas frequentes viagens de membros de sua administração. Na terça-feira, o diretor do FBI, Kash Patel, e o procurador-geral assistente Todd Blanche estiveram em Chicago, enquanto a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, visitou o escritório do ICE em Portland. Noem esteve também na unidade do ICE em Chicago na semana passada, logo após uma coletiva de imprensa em Memphis, Tennessee, onde autoridades anunciaram a chegada da Guarda Nacional.
Caso as decisões judiciais não favoreçam Trump, ele afirmou que pode recorrer ao Insurrection Act, uma lei que permite o uso de tropas militares em solo americano em situações específicas, superando a Posse Comitatus Act, que normalmente proíbe o uso das Forças Armadas para aplicação da lei interna.
“Se eu tiver que aplicar essa lei, eu farei”, disse Trump na segunda-feira. “Se pessoas estiverem sendo mortas e os tribunais, governadores ou prefeitos estiverem nos impedindo, com certeza farei isso.”
Situação das implantações da Guarda Nacional:
Chicago
Um juiz federal adiou uma decisão imediata sobre a suspensão das tropas em Chicago, o que levou à chegada de centenas de soldados da Guarda Nacional a centros de treinamento locais. Trump autorizou 300 soldados da Guarda Nacional de Illinois para serviço ativo na cidade, e o governador republicano do Texas, Greg Abbott, ofereceu mais 400 guardas do seu estado, que já foram vistos em um centro de treinamento nos subúrbios.
A juíza April Perry, nomeada por Biden, pediu mais tempo para analisar as complexas questões legais. As partes têm até o fim do dia de quarta-feira para apresentar argumentos escritos, com audiência marcada para quinta-feira.
O prefeito Johnson afirmou que a situação coloca a polícia local em uma posição difícil, acusando Trump de colocar forças policiais contra si mesmas e alertando que o envio de agentes federais foi apenas um pretexto para a chegada da Guarda Nacional, cujo objetivo final seria o uso do exército nas cidades americanas.
Portland
Diferentemente da demora em Chicago, a juíza Karin Immergut, indicada por Trump, bloqueou rapidamente a convocação da Guarda Nacional de Oregon no sábado. Quando a Casa Branca enviou tropas da Guarda Nacional da Califórnia para Portland no domingo, Immergut ampliou sua decisão para impedir todas as implantações da Guarda no estado.
O caso está agora no Tribunal de Apelações do Nono Circuito, que deve decidir se suspende a ordem da juíza e permite o envio das tropas. Uma audiência está marcada para quinta-feira diante de um painel de três juízes, dois indicados por Trump e um por Clinton.
Memphis
Enquanto o envio da Guarda Nacional a Portland está bloqueado, a implantação em Memphis enfrenta atrasos por questões práticas. O prefeito democrata Paul Young informou que as tropas do Tennessee devem chegar nos próximos dias ou semanas, mas o papel exato delas na cidade ainda não foi divulgado.
Um grande grupo de agentes federais já atua em Memphis como parte da Memphis Safe Task Force, que realizou 386 prisões em pouco mais de uma semana, segundo dados do Departamento de Justiça divulgados na quarta-feira. Destas, mais de 200 foram classificadas como prisões por mandado ou administrativas, e duas relacionadas a homicídios.
Apesar das divergências políticas entre a liderança democrata da cidade e o governo Trump, Young afirmou que está cooperando para garantir a coordenação da operação na comunidade.
“Foi uma decisão do governador e do presidente, e como prefeito, meu papel é assegurar que tudo seja bem coordenado na nossa comunidade”, declarou à afiliada da CNN WATN.
Foto: Erin Hooley/AP
Fonte: CNN