Por Jason Laughlin – Boston Globe
Um adolescente brasileiro de 13 anos, morador de Everett, está detido em um centro de internação do ICE na Virgínia após autoridades federais alegarem que ele representava uma ameaça à segurança pública e portava uma arma de fogo e uma faca no momento da prisão. A informação foi divulgada nesta segunda-feira por Tricia McLaughlin, secretária assistente do Departamento de Segurança Interna (DHS), em uma publicação na rede social X.
Apesar das alegações, ainda não está claro o que motivou a prisão do jovem e como ele acabou sob custódia do ICE. Segundo a família, o adolescente está atualmente no Northwestern Regional Juvenile Detention Center, em Winchester, Virgínia.
O advogado Andrew Lattarulo, que representa o adolescente, afirmou que os direitos constitucionais do jovem estão sendo violados. “Ele deveria ter permanecido em Massachusetts, onde poderia responder a qualquer acusação dentro da jurisdição do seu estado, e não em uma unidade a centenas de quilômetros de casa”, declarou Lattarulo. O advogado entrou com um pedido de habeas corpus na sexta-feira para garantir que o caso seja analisado em Massachusetts. O juiz federal Richard G. Stearns determinou que o governo tem até terça-feira para explicar a prisão; caso contrário, o jovem deverá ter uma audiência de fiança até sexta-feira.
O adolescente, aluno da 7ª série da Albert N. Parlin School, em Everett, e sua família aguardam audiência de asilo e possuem autorização para trabalhar nos Estados Unidos, segundo a mãe, Josiele Berto, em entrevista ao Boston Globe.
O caso faz parte de uma série de detenções de jovens em Massachusetts desde o início da “Operação Patriot 2.0”, lançada pelo governo Trump para intensificar a fiscalização migratória.
A polícia de Everett informou que um adolescente foi detido por um policial escolar na quinta-feira, sob acusação de crime grave, mas não confirmou se se trata do mesmo jovem agora sob custódia do ICE, alegando restrições de privacidade. O policial, que não se identificou, afirmou que o único menor detido naquele dia foi o adolescente em questão.
Na publicação feita por McLaughlin, ela afirmou que o jovem tinha um “histórico extenso”, incluindo agressão violenta com arma, lesão corporal, arrombamento e destruição de propriedade, além de estar portando uma arma de fogo e uma faca de 12 a 18 centímetros no momento da prisão. No entanto, o DHS não esclareceu quais acusações específicas pesam contra o adolescente, e registros judiciais de menores não são públicos.
Segundo Lattarulo, a mãe do jovem tem conhecimento limitado de inglês e não sabe se foram apresentadas acusações formais contra o filho. O advogado também não comentou sobre possíveis prisões anteriores, afirmando que ainda está buscando acesso ao histórico do adolescente.
Lattarulo reconheceu que deve haver um motivo legítimo para a abordagem policial, mas reforçou que o jovem precisa de apoio, não de ser tratado como criminoso e transferido para longe da família. Ele também destacou que informações sobre registros de menores não deveriam ser divulgadas publicamente.
Josiele Berto relatou ao Boston Globe que foi chamada à delegacia de Everett para buscar o filho, mas, enquanto aguardava, viu pessoas que pareciam agentes do ICE entrando no prédio. Mais tarde, foi informada de que o filho havia sido levado pelo órgão federal.
Ainda não está claro como o ICE assumiu a custódia do adolescente, já que, segundo a polícia de Everett, não há registro de transferência de um menor para o órgão de imigração. O jovem foi levado inicialmente para uma unidade do ICE em Burlington, onde passou a noite, e transferido no dia seguinte para a Virgínia.
A polícia de Everett afirma ter uma política de não transferir detidos para autoridades federais de imigração. “Não cooperamos com a imigração. Não entregamos presos para eles”, disse um policial. Pela lei estadual, menores geralmente só podem ser liberados para um responsável legal ou para o Departamento de Serviços Juvenis. No entanto, o ICE recebe automaticamente notificações e registros de impressões digitais em casos de prisão por crime grave.
Segundo Lattarulo, Josiele Berto tem mantido contato frequente com o filho, mas enfrenta dificuldades emocionais diante da situação. “Ela está sofrendo, como qualquer mãe sofreria”, afirmou o advogado.
Foto: Boston Globe
Fonte: Boston Globe