A microbiologista brasileira Mariangela Hungria acaba de conquistar um dos prêmios mais importantes do mundo na área de alimentação e agricultura: o World Food Prize, conhecido como o “Oscar da alimentação”. A premiação reconhece avanços significativos na produção de alimentos e vem acompanhada de um prêmio em dinheiro de 500 mil dólares.
Mariangela trabalha há mais de 40 anos na EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), onde se dedicou a estudar bactérias do solo capazes de substituir fertilizantes químicos. No início da carreira, ela enfrentou muito ceticismo. “Quando comecei, diziam que eu era louca, que isso nunca daria certo”, relembra.
Mas deu. Ao longo dos anos, ela identificou e desenvolveu o uso de microrganismos como as bactérias do tipo rizóbio, que vivem nas raízes da soja e capturam nitrogênio do ar, transformando-o em alimento para as plantas. Também estudou o uso da bactéria Azospirillum, que estimula o crescimento das raízes de culturas como milho, trigo e capim, tornando o uso de nutrientes mais eficiente.
Hoje, o uso de microrganismos no cultivo de grãos é uma prática comum no Brasil, ajudando agricultores a economizar com fertilizantes e a reduzir o impacto ambiental. Segundo especialistas, o Brasil é líder mundial no uso dessas tecnologias, em parte graças ao trabalho de Hungria.
A paixão pela ciência começou ainda na infância, inspirada por sua avó, que lhe apresentou o mundo das plantas e do solo. Depois de se formar e fazer doutorado, Mariangela entrou para a EMBRAPA em 1982, seguindo os passos de outras pioneiras da ciência brasileira, como Johanna Döbereiner.
Ela é a segunda pesquisadora da EMBRAPA a receber o World Food Prize. O primeiro foi Edson Lobato, que ajudou a transformar o Cerrado — antes considerado impróprio para a agricultura — em uma das regiões mais produtivas do país.
Agora, Hungria quer olhar para o futuro da agricultura com outra perspectiva. Ela defende práticas mais sustentáveis, com maior participação das mulheres e foco na qualidade nutricional dos alimentos, não apenas na quantidade produzida. Em seu discurso de premiação, ela pretende destacar a importância de uma agricultura mais equilibrada, que cuide da terra e das pessoas.
Com o valor recebido pelo prêmio, Mariangela pretende criar uma nova premiação para reconhecer mulheres que atuam na agricultura, na microbiologia, na comunicação ou em projetos voltados para pessoas com deficiência.
Esse reconhecimento internacional reforça o papel da ciência brasileira no cenário global e mostra como soluções sustentáveis podem transformar a agricultura e a vida de milhões de pessoas.
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