A rede de supermercados Market Basket, com 90 lojas espalhadas pela região da Nova Inglaterra, está enfrentando mais uma crise interna envolvendo disputas familiares e decisões polêmicas da diretoria. O centro da controvérsia é a decisão de afastar o CEO Arthur T. Demoulas, figura popular entre funcionários e clientes, que foi colocado em licença remunerada por decisão de três dos quatro membros do conselho da empresa.
O único membro do conselho que se opôs à decisão, Bill Shea, escreveu uma carta ao atual presidente do conselho, Jay Hachigian, criticando duramente a forma como a decisão foi tomada. Segundo Shea, o afastamento de Demoulas é um “erro catastrófico de gestão e negócios” e ameaça diretamente o sucesso da empresa. Ele também acusou os demais membros do conselho de agirem em segredo e de provocarem uma crise desnecessária dentro da companhia.
Shea, que presidiu o conselho por mais de 20 anos antes de ser substituído por Hachigian em março, afirmou que a liderança de Arthur Demoulas foi fundamental para o crescimento e a cultura da empresa. “Não sei como se constrói um argumento contra alguém que dedicou a vida inteira ao negócio”, disse.
A situação atual lembra a crise de 2014, quando Demoulas foi demitido por seus primos, o que gerou uma greve de funcionários e boicote de clientes que durou seis semanas. A crise só foi resolvida quando Arthur e suas irmãs compraram a parte dos primos e ele retornou ao cargo de CEO. Desta vez, no entanto, o conflito é entre o próprio Arthur e suas três irmãs, que juntas controlam 60% das ações da empresa. Arthur detém 28%, e o restante está em um fundo para os netos da família.
O afastamento de Demoulas e de dois de seus filhos — que também ocupavam cargos na empresa — teria sido motivado por rumores de que ele estaria planejando uma paralisação semelhante à de 2014 para se manter no cargo. A diretoria contratou um escritório de advocacia para investigar a situação, mas aliados de Demoulas negam qualquer plano nesse sentido.
Na carta, Shea também expressa preocupação com a criação de um comitê executivo de três membros que o excluiu das decisões mais recentes. Ele afirma que a diretoria deveria agir em benefício da empresa como um todo, e não apenas dos interesses das irmãs de Arthur.
Em resposta, Hachigian acusou Shea de vazar informações confidenciais para Demoulas e lembrou que o CEO vinha desrespeitando diretrizes do conselho, como a exigência de apresentar orçamentos e planos de sucessão. Segundo Hachigian, Arthur teria decidido que seus filhos seriam seus sucessores sem consultar o conselho, o que gerou ainda mais tensão.
Shea admite que conversa com Arthur, mas nega ter repassado informações sigilosas. “Falo com ele, sim, mas não fico contando tudo o que acontece nas reuniões confidenciais”, afirmou.
Apesar da turbulência, Hachigian garantiu que as operações do Market Basket seguem normais desde o afastamento de Demoulas. Ele sugeriu ainda uma reunião com Shea para discutir os pontos levantados nas cartas.
Shea, por sua vez, disse que escreveu a carta para registrar sua posição e que espera continuar no conselho, embora reconheça que seu futuro na empresa esteja incerto. “Acho que ainda posso contribuir com a companhia. Tenho orgulho do que fiz, mas não tem sido fácil”, concluiu.
Foto: Jonathan Wiggs/Equipe Globe