Consumo de álcool nos EUA atinge menor nível já registrado, aponta pesquisa Gallup

Por Ayana Archie – NPR

O número de americanos que afirmam consumir bebidas alcoólicas caiu para o menor patamar desde que a empresa de pesquisas Gallup começou a monitorar esse comportamento, em 1939. Segundo levantamento divulgado recentemente, apenas 54% da população dos Estados Unidos declarou beber álcool — um ponto percentual abaixo do recorde anterior, registrado em 1958.

A redução coincide com uma percepção crescente de que o consumo de álcool, mesmo em moderação, pode ser prejudicial à saúde. A psicóloga Sarah Dermody, professora da Universidade Metropolitana de Toronto, acredita que esse movimento está relacionado ao aumento da conscientização pública sobre os riscos do álcool.

“Durante muito tempo, o foco esteve nos efeitos do consumo excessivo ou episódico. Mas agora, mesmo o consumo moderado tem sido questionado”, explicou Dermody.

Pesquisas anteriores chegaram a sugerir que pequenas quantidades de álcool, como uma taça de vinho tinto por dia, poderiam trazer benefícios à saúde. No entanto, segundo Dermody, a ciência evoluiu e passou a diferenciar correlação de causalidade. Ou seja, pessoas que não bebem podem apresentar problemas de saúde por outras razões, enquanto quem consome álcool pode ter outros hábitos saudáveis que mascaram os efeitos negativos da bebida.

Com o controle desses fatores, estudos mais recentes apontam que qualquer quantidade de álcool pode aumentar os riscos de doenças como câncer, depressão e ansiedade.

Os jovens parecem estar mais atentos a essas informações. De acordo com a pesquisa da Gallup, apenas 50% dos americanos entre 18 e 34 anos disseram consumir álcool, contra 56% entre os maiores de 35 anos. Além disso, 66% dos mais jovens acreditam que beber moderadamente faz mal à saúde, enquanto essa percepção é compartilhada por cerca de metade dos adultos mais velhos.

Segundo Sara McMullin, professora de psicologia na Universidade Webster, os jovens cresceram em um ambiente onde mensagens sobre limites seguros de consumo foram mais difundidas. Ela também destaca que, atualmente, é mais socialmente aceitável não beber, o que se reflete na popularidade de movimentos como o “Dry January” (Janeiro Seco) e o “Sober October” (Outubro Sóbrio), além do crescimento de bebidas sem álcool, como mocktails e cervejas zero.

Outro fator apontado por McMullin é o custo do álcool. “A bebida pode ser vista como um luxo, não uma necessidade. Isso pode estar contribuindo para a queda no consumo, especialmente entre os jovens que enfrentam dificuldades no mercado de trabalho”, afirmou.

A pesquisa também revelou diferenças significativas entre homens e mulheres. O consumo feminino caiu 11 pontos percentuais desde 2023, enquanto entre os homens a queda foi de cinco pontos. Em relação às preferências, 44% das mulheres disseram preferir vinho, contra 14% dos homens. Já a cerveja é a bebida favorita de 52% dos homens, frente a 23% das mulheres.

Dermody acredita que essas diferenças estão ligadas ao papel do álcool em atividades tradicionalmente masculinas, como assistir a esportes. McMullin acrescenta que as percepções sociais influenciam: homens tendem a considerar a cerveja mais aceitável, enquanto mulheres veem o vinho da mesma forma.

Ela também sugere que as mulheres, geralmente mais preocupadas com a saúde, podem buscar apoio emocional em suas redes sociais, enquanto os homens tendem a reprimir sentimentos e recorrer ao álcool como forma de lidar com o estresse.

Apesar da queda no consumo de álcool, a Gallup afirma que não há indícios de que os americanos estejam substituindo a bebida por outras substâncias, como a maconha. Segundo a empresa, o uso de cannabis se manteve relativamente estável nos últimos quatro anos.

No entanto, Gail D’Onofrio, professora de medicina e saúde pública da Universidade Yale, discorda. Ela cita dados da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde, do governo federal, que mostram aumento no uso de maconha entre pessoas com mais de 26 anos desde 2021, embora o consumo tenha diminuído entre os jovens de 18 a 25 anos.

D’Onofrio ressalta que é mais fácil comunicar o que constitui um consumo saudável de álcool do que de maconha. “Todo mundo sabe o que é uma dose padrão de bebida. Já com a cannabis, não dá para dizer quanto é seguro consumir ou o que exatamente há em um comestível”, afirmou.

Tanto D’Onofrio quanto as professoras McMullin e Dermody acreditam que o consumo de álcool deve continuar caindo nos Estados Unidos, impulsionado pela maior consciência pública sobre os riscos à saúde. Ainda assim, Dermody faz uma ressalva: “É preciso cautela antes de chamar isso de tendência ou mudança definitiva. Precisamos de mais pesquisas que confirmem se essa queda vai continuar ou se estabilizará nesse nível.”

Foto: Freepik

Fonte: NPR

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