Costco fecha parceria com a Novo Nordisk e passa a vender Ozempic e Wegovy pela metade do preço nos EUA

Por Sarah Rahal – Boston Globe

A rede varejista Costco firmou um acordo com a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk para vender os medicamentos Ozempic e Wegovy, dois dos remédios mais procurados da classe GLP-1, por aproximadamente metade do valor habitual. O novo preço, de US$ 499 por mês, continua condicionado à prescrição médica, supervisão profissional e análise dos custos e da cobertura de seguros de saúde.

O acordo surge em um momento em que alguns dos maiores planos de saúde de Massachusetts anunciam mudanças ou cortes na cobertura desses medicamentos a partir do próximo ano. Especialistas locais avaliam que, embora a medida possa ampliar o acesso, também pode deixar de fora justamente os pacientes com menos recursos.

Prescrição continua obrigatória

Mesmo com o desconto da Costco, Ozempic e Wegovy não são vendidos sem receita. A empresa opera suas farmácias em parceria com a plataforma de saúde on-line Sesame, que realiza triagem médica e cobra uma taxa antes de prescrever os medicamentos a pacientes elegíveis.

Atualmente, há sete lojas da Costco em Massachusetts: em Avon, Everett, Danvers, Dedham, Sharon, Waltham e West Springfield, além de seis em Connecticut e uma em New Hampshire. O estado de Rhode Island não tem unidades, o que pode levar moradores a viajar para conseguir os remédios.

Medicamentos seguem caros

O preço promocional de US$ 499 representa um desconto significativo, já que o custo normal pode ultrapassar US$ 1.000 mensais sem seguro. Ainda assim, a maioria dos planos de saúde não cobre essas medicações exceto em casos específicos, geralmente para tratamento de diabetes tipo 2.

“É uma boa notícia, mas muitos pacientes ainda não conseguirão pagar”, afirmou o endocrinologista Dr. Amin Sabet, do UMass Memorial Medical Center. Segundo ele, a obesidade afeta de forma desproporcional pessoas com menos recursos financeiros.

A Novo Nordisk já oferecia os mesmos medicamentos diretamente pela farmácia do fabricante, mas o acesso é limitado. “Trazer o mesmo preço reduzido para farmácias e locais onde os pacientes já compram pode aumentar o acesso”, acrescentou o médico.

O preço com desconto também é encontrado em grandes redes como CVS, Walgreens, Wegmans, Walmart, Target, Star Market, Stop & Shop e na plataforma GoodRx.

Planos reduzem cobertura de GLP-1

A cobertura de medicamentos GLP-1 varia conforme a seguradora e o uso, tratamento de diabetes ou controle de peso.

Planos privados em Massachusetts, como Blue Cross Blue Shield, continuam cobrindo o Ozempic para diabetes tipo 2, mas não o Wegovy quando prescrito apenas para perda de peso. A partir de 1º de janeiro, tanto a Blue Cross Blue Shield quanto a Point32Health, dona da Harvard Pilgrim Health Care e da Tufts Health Plan, vão restringir a cobertura desses medicamentos.

A Blue Cross informou que caberá aos empregadores decidir se desejam manter o benefício para controle de peso, mediante custo adicional. Já a Point32Health manterá cobertura apenas para o Zepbound, exigindo que usuários de outros GLP-1s, como Wegovy e Saxenda, façam a troca. Autorizações anteriores para uso de medicamentos voltados à perda de peso serão canceladas.

O MassHealth, programa estadual de assistência médica, continuará cobrindo Zepbound para obesidade e Mounjaro para diabetes, mas deixará de incluir Wegovy e Saxenda como opções de tratamento para peso.

Em 2024, Massachusetts registrou um aumento de 255% nas prescrições de GLP-1 para obesidade, um dos maiores do país. A Point32Health, por sua vez, reportou perdas de US$ 382 milhões e iniciou demissões devido aos altos custos.

“Os planos de saúde estão tornando muito difícil o acesso dos pacientes a esses medicamentos”, lamentou Dr. Caroline Apovian, diretora do Centro de Controle de Peso e Bem-Estar do Brigham and Women’s Hospital.

Para o Dr. Sabet, a iniciativa da Costco é positiva, “mas o país precisa urgentemente de uma cobertura de seguro mais ampla para que quem mais precisa desses tratamentos consiga acessá-los”.

Uso exige dieta e acompanhamento

Os médicos alertam que os GLP-1s não são soluções rápidas e devem ser combinados com alimentação equilibrada e exercícios.

“Esses medicamentos precisam ser administrados em doses progressivas e acompanhados de uma dieta rica em proteínas e com poucas calorias”, explicou Apovian. “Se o paciente apenas toma o remédio sem mudar hábitos, não vai funcionar.”

Os GLP-1s são indicados principalmente para pessoas com diabetes tipo 2 e adultos com IMC acima de 30, ou acima de 27 em casos com condições associadas, como doenças cardiovasculares ou apneia do sono. Eles não são recomendados para pessoas com certos problemas de tireoide, hipertensão, histórico de pancreatite ou gestantes.

“Obesidade é uma doença com causas biológicas que afetam a regulação do peso e podem gerar complicações graves”, ressaltou Sabet.

Cuidado com imitações

O sucesso dos GLP-1s tem levado ao surgimento de farmácias de manipulação e suplementos não aprovados pela FDA, o que preocupa especialistas.

“Muitos pacientes que não conseguem acesso aos tratamentos aprovados acabam recorrendo a produtos sem comprovação, que podem trazer riscos à saúde”, alertou Sabet.

Apovian acrescenta que, embora o desconto da Costco amplie o acesso, é importante manter o cuidado médico especializado. “Precisamos de mais especialistas em medicina da obesidade para garantir que esses medicamentos sejam usados corretamente e isso não vai acontecer dentro da Costco”, afirmou.

Foto: Jonathan Wiggs/Equipe Globe/Boston Globe

Fonte: Boston Globe

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