Cresce o número de casos de abuso infantil na internet e autoridades intensificam combate

As autoridades americanas estão enfrentando um aumento preocupante na disseminação de material de abuso sexual infantil na internet, especialmente em plataformas criptografadas e no chamado “dark web”. Investigações recentes revelam redes organizadas que compartilham imagens e vídeos de crianças sendo abusadas, muitas vezes envolvendo bebês e crianças pequenas.

Um dos casos mais chocantes envolve Christopher Sheerer, de 35 anos, anestesista pediátrico do Hospital Infantil de Boston. Ele foi preso em julho após a polícia encontrar, em seu celular, imagens de abuso infantil compartilhadas em um aplicativo criptografado. Segundo os investigadores, para entrar nesse grupo, os participantes precisavam enviar uma imagem explícita de uma criança nua, com um bilhete escrito à mão com o nome do grupo, como forma de comprovar que o conteúdo era original. Sheerer responde por posse e distribuição de pornografia infantil e aguarda julgamento. O hospital o demitiu após a prisão.

Esse caso é apenas um entre milhares. Somente em 2024, o FBI abriu mais de 6 mil investigações relacionadas à exploração infantil, prendeu mais de 2.600 pessoas e identificou o mesmo número de vítimas. O Departamento de Segurança Interna, por meio da divisão Homeland Security Investigations (HSI), também registrou números alarmantes: quase 7 mil casos iniciados, cerca de 5 mil prisões e mais de 1.700 crianças identificadas ou resgatadas.

“As pessoas precisam entender que, para cada criminoso preso, há uma criança sendo protegida”, afirmou Sean Garvey, agente especial do HSI. Ele destaca que o foco das investigações é sempre a vítima e que o crime é global, sem fronteiras.

As autoridades enfrentam diversos desafios, como o uso crescente de inteligência artificial para criar imagens falsas de crianças nuas a partir de fotos comuns. Em 2023, a Central Nacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas (NCMEC) recebeu mais de 67 mil denúncias relacionadas ao uso de IA para esse fim — um aumento de mais de 1.300% em relação ao ano anterior.

Outro problema crescente é o da “sextorsão”, em que criminosos, muitas vezes do exterior, se passam por adolescentes nas redes sociais para enganar jovens e convencê-los a enviar fotos íntimas. Depois, ameaçam divulgar as imagens caso não recebam dinheiro. Segundo o FBI, esse tipo de crime aumentou desde a pandemia, afetando principalmente meninos do ensino médio. Muitos jovens, tomados pela vergonha, não denunciam e acabam sofrendo sérios impactos emocionais.

A tecnologia tem sido usada tanto para o mal quanto para o bem. Agentes do FBI e do HSI estão utilizando ferramentas de inteligência artificial para acelerar a identificação de vítimas e analisar grandes volumes de dados armazenados em celulares e computadores apreendidos.

As investigações também têm como prioridade casos que envolvem pessoas em posições de confiança, como professores, médicos e policiais. Um exemplo é o ex-professor de música Joshua DeWitte, acusado de pagar quase 24 mil dólares para que vídeos de abuso infantil fossem produzidos nas Filipinas. Ele teria se gabado, em mensagens, de ter abusado de crianças em outros países da Ásia.

Outro caso que chamou atenção foi o da ex-deputada estadual de New Hampshire, Stacie-Marie Laughton, e sua ex-companheira Lindsay Groves. Groves, que trabalhava em uma creche, é acusada de tirar fotos nuas de crianças e compartilhá-las com Laughton. O julgamento está previsto para novembro.

As autoridades alertam que o perfil dos criminosos está mudando. Antes, a maioria era composta por homens brancos entre 30 e 40 anos. Hoje, há pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais envolvidas nesses crimes.

Apesar do volume assustador de casos, os investigadores seguem firmes no combate à exploração infantil. “Nosso objetivo principal é identificar essas crianças e garantir que estejam em um ambiente seguro”, disse Doug Humphrey, agente do FBI responsável por uma força-tarefa em Boston.

A mensagem das autoridades é clara: a luta contra a exploração infantil é constante, e cada prisão representa uma chance de salvar uma criança.

Foto: Boston Globe

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