Por Joel Rose – NPR
O Departamento de Transportes dos Estados Unidos (DOT) anunciou novas medidas para tornar mais rígidas as regras de concessão de licenças para caminhoneiros imigrantes, alegando preocupação com a segurança nas estradas. A decisão veio após um acidente em Fort Pierce, na Flórida, em agosto, quando o motorista Harjinder Singh, nascido na Índia, teria feito uma conversão proibida com um caminhão, causando a morte de três pessoas. Singh, que segundo o Departamento de Segurança Interna estava no país de forma irregular, afirma ter permissão de trabalho válida e se declarou inocente das acusações de homicídio veicular.
O caso ganhou destaque em canais de notícias conservadores e levou a uma resposta rápida do governo Trump. O secretário de Transportes, Sean Duffy, afirmou em coletiva que o processo de emissão das licenças para caminhoneiros está “completamente quebrado” e representa uma emergência nacional. Segundo Duffy, há muitos motoristas estrangeiros sem domínio do inglês e desconhecedores das leis de trânsito, o que colocaria a segurança pública em risco.
As novas regras propostas pelo DOT dificultam a obtenção da licença de caminhoneiro (CDL) para imigrantes, inclusive para aqueles em situação regular, e pressionam os estados a revogarem licenças consideradas irregulares. A Califórnia, por exemplo, já anunciou que irá cancelar 17 mil licenças que não atendem à exigência de validade alinhada com a autorização federal de trabalho. A Pensilvânia também está sob ameaça de perder US$ 75 milhões em repasses federais caso não revogue licenças contestadas pelo governo federal.
No entanto, críticos das medidas, como Cassandra Zimmer-Wong, analista de políticas do Niskanen Center, afirmam que não há dados que comprovem que caminhoneiros estrangeiros sejam mais perigosos do que os nascidos nos EUA. Segundo ela, até mesmo auditorias do próprio DOT não encontraram relação entre o país de origem do motorista e seu histórico de acidentes. Zimmer-Wong avalia que as novas regras têm como objetivo principal retirar imigrantes do setor, podendo afetar até 200 mil trabalhadores.
Pawan Singh, dono de uma empresa de transporte na Virgínia e também imigrante da Índia, reconhece que há problemas de qualificação entre motoristas, mas ressalta que isso não é exclusivo de estrangeiros. Singh teme que o foco do governo esteja mais em discriminar minorias, como a comunidade Sikh, do que em resolver falhas reais na formação de caminhoneiros.
O endurecimento das regras já enfrenta questionamentos judiciais. Um painel de juízes do Tribunal de Apelações do Distrito de Columbia suspendeu temporariamente a nova regra enquanto avalia sua legalidade, mas o governo Trump segue empenhado em torná-la permanente.
Foto: Godofredo A. Vásquez/AP
Fonte: NPR






