Uma operação federal em Framingham, Massachusetts, expôs uma farmácia clandestina supostamente administrada por imigrantes brasileiros. Quatro pessoas foram presas, acusadas de vender medicamentos ilegalmente sem licença nos Estados Unidos. Mas, segundo advogados e líderes comunitários, a história vai além da ilegalidade: a farmácia estaria atendendo a uma necessidade real da comunidade imigrante, especialmente de pessoas sem documentos.
De acordo com a investigação, a farmácia funcionava em um apartamento e oferecia medicamentos trazidos do Brasil, além de serviços como injeções e consultas informais. O local foi descoberto após uma denúncia anônima e, segundo autoridades, chegou a atender cerca de 500 pessoas.
Para os promotores, o grupo explorava a confiança da comunidade ao se passar por profissionais de saúde. Mas para a defesa, o que existia era uma alternativa, embora ilegal, para pessoas que, por medo de deportação ou falta de acesso ao sistema de saúde, não conseguiam atendimento médico adequado.
“Essas pessoas não estavam buscando drogas para abuso. Estavam tentando conseguir tratamento”, disse o advogado Keith Halpern, que representa um dos acusados. Ele argumenta que muitos imigrantes preferem correr o risco de comprar remédios ilegalmente a se expor em clínicas ou hospitais e acabar sendo deportados.
A situação é agravada pela dificuldade de conseguir atendimento médico em Massachusetts, mesmo para quem tenta seguir os caminhos legais. Centros de saúde comunitários, que costumam atender imigrantes, estão sobrecarregados, com filas de espera que podem durar meses ou até anos. O Edward M. Kennedy Community Health Center, em Framingham, por exemplo, já chegou a informar pacientes sobre uma espera de dois anos para atendimento.
Além disso, a volta do presidente Donald Trump à Casa Branca e a intensificação das ações de imigração têm gerado ainda mais medo entre imigrantes, inclusive os que têm green card. Muitos estão cancelando seus planos de saúde ou evitando procurar atendimento médico com receio de serem localizados por autoridades de imigração.
A defensora pública Hannah Frigand, da organização Health Care For All, destaca que o sistema atual é extremamente difícil de navegar, especialmente para quem não fala inglês. “Em cada etapa, há barreiras que dificultam o acesso à saúde para imigrantes”, afirma.
Apesar dos riscos envolvidos, especialistas alertam para o perigo de buscar alternativas ilegais. “Sabemos que há pessoas desesperadas, mas é importante procurar ajuda em centros de saúde confiáveis”, disse Steve Kerrigan, presidente do centro de saúde Edward M. Kennedy. “Existem clínicas gratuitas, e fazemos o possível para atender todos que nos procuram.”
O caso da farmácia clandestina em Framingham evidencia um problema maior. O sistema de saúde dos EUA, especialmente para imigrantes, está falhando em atender uma parte vulnerável da população. E isso abre espaço para soluções arriscadas, mas que muitos veem como a única opção.
Foto: Cortesia/Ministério Público dos EUA