Governo Trump abre 10 mil vagas na ICE para ampliar detenções e deportações de imigrantes

Por Naomi LaChance – Rolling Stone

O presidente Donald Trump está promovendo uma ampla campanha de contratação para reforçar a atuação da Agência de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês). A meta do governo é preencher 10 mil vagas para agentes responsáveis por prender, deter e deportar imigrantes em situação irregular em todo o país.

As contratações fazem parte da implementação do “Big Beautiful Bill”, projeto de lei sancionado por Trump que destina dezenas de bilhões de dólares para políticas de imigração, ao mesmo tempo em que reduz impostos para os mais ricos e corta o acesso ao Medicaid, programa de saúde pública para pessoas de baixa renda e com deficiência.

As vagas estão sendo abertas em 25 cidades de diferentes regiões dos EUA, incluindo grandes centros urbanos como Los Angeles, Nova York, Chicago, Boston, Atlanta, Filadélfia, San Francisco, Seattle e Washington, D.C. Também há oportunidades em cidades com grandes populações latinas, como Miami Beach, Phoenix, San Antonio, Houston, Dallas e San Diego, além de localidades nas fronteiras com o México e o Canadá, como El Paso, Harlingen, Detroit e Buffalo.

Os anúncios de emprego oferecem salários entre US$ 50 mil e US$ 90 mil para novos agentes, com bônus de assinatura de US$ 50 mil e até US$ 60 mil em perdão de dívidas estudantis. Para agentes aposentados durante o governo Biden, que agora estão sendo convidados a retornar, os salários podem chegar a US$ 144 mil, além do mesmo bônus de US$ 50 mil.

O site do Departamento de Segurança Interna (DHS) exibe uma imagem do Tio Sam com a frase “RETURN TO MISSION” (Volte à missão), em uma clara tentativa de apelo patriótico. “Seu país está chamando você para servir na ICE”, declarou a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem. “Este é um momento decisivo na história da nossa nação. Precisamos de homens e mulheres corajosos para defender nosso território.”

A ICE já vem realizando prisões em larga escala, inclusive em locais como tribunais e locais de trabalho. Segundo relatos, agentes têm agido sem identificação visível e, em alguns casos, quebrado vidros de carros para retirar imigrantes com mais rapidez.

Além dos agentes de deportação, o DHS também está contratando investigadores criminais, com salários entre US$ 63 mil e US$ 102 mil, e até US$ 171 mil para profissionais experientes que retornarem ao serviço. Advogados também estão sendo recrutados para atuar em 90 cidades.

Especialistas alertam para os riscos de contratações em massa feitas de forma acelerada. “Contratar 10 mil pessoas significa basicamente aceitar quem aparecer na porta, só para cumprir a meta”, afirmou Josiah Heyman, professor da Universidade do Texas em El Paso, ao Los Angeles Times. “Esse tipo de contratação rápida favorece erros e negligência.”

A administração Trump também estuda ampliar o uso das Forças Armadas em operações de imigração dentro do território dos EUA. Um memorando obtido pela revista The New Republic, assinado por Philip Hegseth, irmão do secretário de Defesa Pete Hegseth, pede que os militares “sintam — pela primeira vez — a urgência da missão de defesa do território nacional” e colaborem com agentes da ICE e da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP).

A possibilidade de uso militar interno preocupa especialistas em segurança e direitos civis. “O memorando é alarmante porque sugere o uso das Forças Armadas em solo americano em um nível que não se via desde o internamento de japoneses na Segunda Guerra Mundial”, afirmou Carrie Lee, pesquisadora do German Marshall Fund. “O Exército é o instrumento mais poderoso e coercitivo do país. Usá-lo para aplicação da lei interna mina completamente o Estado de Direito.”

Segundo a Casa Branca, o financiamento previsto no “Big Beautiful Bill” será essencial para cumprir a promessa do presidente Trump de deportar imigrantes considerados criminosos. “O país precisa de vocês para tirar os piores dos piores das nossas ruas”, declarou a porta-voz Abigail Jackson, em nota divulgada pela Politico.

Com essa nova ofensiva, o governo Trump busca intensificar o controle migratório em todo o território americano, ampliando a presença da ICE de costa a costa e reforçando o discurso de segurança nacional como prioridade.

Foto: John Moore/Getty Images

Fonte: Rolling Stone

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