Por Jenna McLaughlin, Ximena Bustillo, Stephen Fowler – NPR
A administração Trump está promovendo uma corrida para alugar escritórios destinados a agentes de imigração que realizam operações em todo o país. Funcionários da General Services Administration (GSA), órgão responsável pela gestão de imóveis e contratos do governo dos Estados Unidos, relataram que a agência criou recentemente uma equipe especial chamada “ICE surge” para atender à demanda do Immigration and Customs Enforcement (ICE) por espaços de trabalho permanentes nas cidades onde atuam.
Na semana passada, o Serviço de Edifícios Públicos da GSA publicou um edital solicitando propostas para locação de escritórios já mobiliados em 19 cidades americanas, com prazo de apenas uma semana para envio das ofertas. Cada contrato prevê espaço para cerca de 70 pessoas. Segundo um dos funcionários da GSA, o ICE pediu com urgência cerca de 300 propriedades mobiliadas para serem alugadas até o inverno.
Esse movimento ocorre poucos meses após o grupo consultivo informal da Casa Branca, o Department of Government Efficiency (DOGE), ter demitido grande parte dos funcionários da GSA e encerrado diversos contratos de aluguel — decisões que agora estão sendo revertidas para atender às novas necessidades do governo. Não há evidências claras de que os cortes anteriores tenham gerado economia significativa para os cofres públicos.
A busca por novos espaços também faz parte de um esforço mais amplo do governo para direcionar recursos à fiscalização migratória, envolvendo desde a realocação de imóveis federais até a mobilização de agentes de outras áreas, como o FBI. A falta de recursos humanos e financeiros tem sido um dos principais obstáculos para ampliar as operações de prisão, detenção e deportação.
Neste verão, o Congresso aprovou US$ 75 bilhões para o ICE contratar mais agentes, expandir centros de detenção e aumentar o número de prisões e deportações. Com cerca de 20 mil funcionários no início do ano, a agência pretende contratar mais de 10 mil novos agentes até dezembro, oferecendo bônus de contratação de dezenas de milhares de dólares. Especialistas em políticas migratórias e críticos temem que a pressa possa comprometer os critérios de seleção.
O ICE também está ampliando sua capacidade de detenção e promovendo operações em larga escala em cidades como Boston e Chicago. Dados mais recentes mostram que 58 mil pessoas estão atualmente detidas pelo órgão. Entidades de defesa dos direitos dos imigrantes alertam para o risco de violações de direitos humanos e do devido processo diante do rápido aumento nas prisões e detenções.
Pesquisas de opinião indicam crescente insatisfação dos eleitores americanos com a atuação do ICE, especialmente em locais considerados “áreas protegidas”, como hospitais.
Enquanto isso, funcionários da GSA relatam um ambiente de trabalho caótico, agravado pela redução de pessoal após a reestruturação promovida pelo DOGE. Agora, com metade da equipe de antes, precisam renegociar contratos cancelados com proprietários que estão elevando os preços dos aluguéis. “É uma hipocrisia sem tamanho”, desabafou um dos servidores.
Além de buscar novos imóveis, a GSA também foi orientada a identificar propriedades federais já existentes que possam ser adaptadas para uso do ICE em cidades como Baltimore, Filadélfia, Washington, Nova York, Denver, Chicago, Kansas City, Greensboro e Fort Myers. Em Boise, Idaho, o ICE planeja investir mais de um milhão de dólares para ampliar um escritório já alugado, segundo documento obtido pelo Idaho Statesman.
Em nota à NPR, um porta-voz da GSA afirmou que a agência “tem orgulho de apoiar o ICE em sua missão de proteger os Estados Unidos” e que trabalha em conjunto com seus parceiros para garantir instalações adequadas às necessidades dos agentes.
Foto: Michael Nigro/Pacific Press/LightRocket via Getty Images
Fonte: NPR