Por Sarah Rahal – Equipe Globe
A governadora de Massachusetts, Maura Healey, criticou duramente neste domingo as ações ampliadas de fiscalização migratória conduzidas pelo governo do presidente Donald Trump no estado e em outras regiões do país. Em entrevista à MSNBC, ela classificou as operações como “insanas” e “erradas”, defendendo que se trata menos de segurança pública e mais de uma tentativa de intimidação.
A ofensiva ocorre após o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos Estados Unidos (ICE) realizar uma segunda grande operação em Massachusetts, seguindo um movimento semelhante em maio, quando 1.500 pessoas foram detidas. Até o momento, a agência não divulgou quantas prisões foram feitas no fim de semana no estado. No sábado, o escritório do ICE em Boston publicou um vídeo no X (antigo Twitter) com declarações de David Wesling, diretor interino da agência na região.
Segundo o ICE, políticas locais têm permitido que criminosos permaneçam nas comunidades em vez de serem deportados. A operação de maio incluiu pessoas acusadas de crimes como agressão sexual, tráfico de drogas e participação em gangues, que haviam sido soltas por autoridades locais mesmo após pedidos federais de detenção. No entanto, uma revisão feita pelo Boston Globe mostrou que quase metade dos detidos não tinha antecedentes criminais e apenas cerca de 4% tinham condenações por crimes violentos.
Healey, que já atuou como procuradora-geral do estado, rebateu as justificativas do governo federal e destacou o impacto humano das ações. “Estamos vendo trabalhadores da construção civil, babás, jardineiros, profissionais da saúde sendo levados em grande número, arrancados de suas famílias”, afirmou.
O presidente Trump, por sua vez, tem intensificado sua retórica sobre o tema. Além de enviar tropas da Guarda Nacional e agentes federais para Washington, D.C., ele tem ameaçado expandir essas medidas para outras cidades, como Chicago. No sábado, publicou no Truth Social um meme inspirado no filme Apocalypse Now, com a frase: “Adoro o cheiro de deportações pela manhã”.
Para Healey, essa postura representa um mau uso dos recursos federais. “Não é a forma correta de utilizar nossas Forças Armadas. Está errado. Se você realmente se importa com a segurança pública, trabalha em conjunto com as autoridades estaduais e apoia a polícia local”, disse.
A prefeita de Boston, Michelle Wu, também se posicionou contra as operações. Em nota, afirmou que elas “não tornam nossa comunidade mais segura” e criticou a falta de transparência da agência. “Há meses o ICE se recusa a fornecer informações sobre suas atividades na cidade e não emite mandados, enquanto recebemos relatos de agentes prendendo pais no momento em que deixam os filhos na escola”, disse.
Na semana passada, o Departamento de Justiça abriu um processo contra Boston, Wu e o Departamento de Polícia local, alegando que as chamadas leis de “santuário” atrapalham a aplicação da legislação federal. A procuradora-geral Pam Bondi acusou a cidade de estar “entre as piores infratoras de políticas de santuário dos Estados Unidos”.
Desde 2014, Boston conta com a Trust Act, legislação que impede a polícia de reter pessoas a pedido de autoridades federais de imigração. Massachusetts, por sua vez, não possui lei que obrigue agências locais a colaborar com o governo federal nesse tipo de fiscalização.
Durante a entrevista, Healey fez questão de esclarecer: “Massachusetts não é um estado santuário, e Boston não é uma cidade santuário. Esses são apenas rótulos que a administração Trump cria para sustentar sua narrativa”. E completou: “Quando vejo estudantes do ensino médio sendo retirados das ruas a caminho do treino de vôlei por agentes do ICE, sei que algo está muito errado”.
Foto: Pat Greenhouse/Equipe Globe
Fonte: Boston Globe