Por Tom Latchem – Daily Beast
O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) adquiriu uma ferramenta de vigilância que pode permitir que agentes do ICE monitorem, em tempo real, os deslocamentos diários de pessoas no país sem que elas saibam. Segundo registros de compra divulgados pelo site 404 Media, as divisões Homeland Security Investigations (HSI) e Immigration and Customs Enforcement (ICE) adquiriram um software atualizado diariamente com bilhões de informações de localização extraídas de centenas de milhões de celulares.
De acordo com a reportagem, o ICE e o HSI optaram pelas soluções Tangles e Webloc, da empresa PenLink, por oferecerem recursos de análise forense e preditiva, capazes de cruzar dados de movimentação com informações de redes sociais. Ferramentas semelhantes já demonstraram que é possível mapear visitas a locais sensíveis, como clínicas de aborto e igrejas, o que aumenta as preocupações sobre possíveis violações de direitos civis.
A compra marca uma mudança de postura do ICE, que havia anunciado em janeiro de 2024 que deixaria de adquirir “dados comerciais de telemetria”, conforme lembrou o 404 Media. O histórico do DHS com esse tipo de vigilância é polêmico: um relatório do inspetor-geral em setembro de 2023 apontou que órgãos como CBP, ICE e Serviço Secreto não seguiram políticas de privacidade nem criaram regras adequadas antes de comprar e usar dados de localização, chegando a citar um caso em que um funcionário do DHS rastreou colegas de trabalho.
Apesar de recomendações para suspender o uso dessas ferramentas até que houvesse garantias de proteção, o ICE justificou a continuidade alegando que os dados ajudam a gerar pistas para investigações, segundo o 404 Media. Antes de escolher a PenLink, a agência avaliou outras empresas do setor, como Babel Street e Venntel, mas preferiu a interface integrada da PenLink, argumentando que as concorrentes poderiam deixar de identificar conexões entre comportamentos online e deslocamentos físicos.
O senador Ron Wyden declarou ao 404 Media que “todo americano deveria se preocupar” com o fato de o ICE voltar a comprar dados de localização sem ordem judicial. Em 2023, a PenLink incorporou a empresa israelense Cobwebs, agregando módulos de inteligência web ao seu pacote de dados. Segundo a Forbes, desde o ano passado o ICE já gastou mais de 5 milhões de dólares em tecnologias da família PenLink.
A aquisição ocorre em meio a uma grande realocação de agentes do HSI para funções de fiscalização migratória, o que levanta dúvidas sobre o uso da ferramenta, originalmente vendida para investigações criminais, como instrumento de deportações em massa.
Em resposta ao 404 Media, o DHS não confirmou nem negou as capacidades do sistema, preferindo criticar a abordagem da imprensa. A PenLink não respondeu aos questionamentos sobre a origem dos dados. Procurado pelo The Daily Beast, o DHS enviou uma resposta automática citando a paralisação de recursos federais, sem esclarecer quem assinou a mensagem.
Foto: OCTAVIO JONES/OCTAVIO JONES / AFP via Getty Images
Fonte: The Daily Beast
