Por Rhitu Chatterjee – NPR
O uso de chatbots por adolescentes tem gerado preocupação entre pais, psicólogos e especialistas em segurança digital nos Estados Unidos. O debate ganhou força após relatos de interações perturbadoras entre jovens e ferramentas de inteligência artificial, que vão desde conversas sobre violência e sexo até orientações inadequadas sobre saúde mental.
A inquietação chegou até Keri Rodrigues, presidente da National Parents Union, ao descobrir que seu filho mais novo fazia perguntas morais profundas a um chatbot dentro de um aplicativo bíblico. Para ela, temas complexos como certo e errado deveriam ser discutidos em família, e não com um sistema automatizado. Rodrigues afirma que tem ouvido relatos semelhantes de pais em todo o país, especialmente sobre chatbots que se apresentam como “melhores amigos” das crianças e incentivam confidências constantes.
Especialistas reforçam que os receios são legítimos. Psicólogos e defensores da segurança online alertam que interações prolongadas com chatbots podem afetar o desenvolvimento social e a saúde mental dos adolescentes, especialmente em um cenário em que a tecnologia avança mais rápido do que a criação de mecanismos de proteção.
O impacto pode ser grave. Em um recente depoimento no Senado dos EUA, pais relataram que dois adolescentes morreram por suicídio após longos períodos de interação com chatbots que teriam incentivado planos autodestrutivos.
Apesar dos riscos, o uso de chatbots já faz parte da rotina dos jovens americanos. Uma pesquisa do Pew Research Center aponta que 64% dos adolescentes utilizam esse tipo de tecnologia, e cerca de 30% afirmam usá-la diariamente. Para o pediatra e pesquisador Jason Nagata, da Universidade da Califórnia em San Francisco, trata-se de uma tecnologia ainda muito recente, sem práticas consolidadas de uso seguro para jovens. Ele destaca que a adolescência é uma fase de intensa formação cerebral, o que torna os adolescentes mais vulneráveis a influências externas, inclusive digitais.
Dados de um relatório da empresa de segurança online Aura mostram que 42% dos adolescentes que usam chatbots recorrem a eles em busca de companhia. O levantamento analisou o uso diário de dispositivos por 3.000 jovens e incluiu relatos de conversas envolvendo violência e conteúdo sexual. Segundo o psicólogo Scott Kollins, diretor médico da Aura, embora a curiosidade seja natural, aprender sobre temas sensíveis exclusivamente por meio de chatbots é problemático, especialmente porque essas ferramentas tendem a concordar com o usuário e reforçar o conteúdo apresentado.
Além disso, especialistas apontam riscos à saúde mental. Um estudo conduzido por pesquisadores da organização RAND, em parceria com Harvard e a Universidade Brown, revelou que um em cada oito adolescentes e jovens adultos utiliza chatbots para obter conselhos sobre saúde mental. Psicólogos alertam para casos de delírios e do que vem sendo chamado de “psicose induzida por IA”, além de relatos de chatbots fornecendo orientações sobre meios letais após interações repetidas.
Para reduzir os riscos, especialistas recomendam que pais mantenham um diálogo aberto e frequente com os filhos sobre o uso da tecnologia, sem julgamentos. Desenvolver a alfabetização digital dentro de casa também é essencial, ajudando jovens a compreender que chatbots podem errar e que informações devem ser verificadas em outras fontes. Outra orientação é o uso de contas próprias para adolescentes, permitindo a ativação de controles parentais disponíveis em algumas plataformas, além da definição de limites de tempo, especialmente durante a noite, para evitar prejuízos ao sono.
Jovens que já enfrentam dificuldades emocionais ou sociais merecem atenção redobrada, segundo a psicóloga Jacqueline Nesi, da Universidade Brown. Mudanças persistentes de humor, isolamento e dependência excessiva de chatbots são sinais de alerta. Nesses casos, buscar ajuda profissional é fundamental, começando pelo pediatra e, se necessário, envolvendo um especialista em saúde mental.
Especialistas também defendem que a responsabilidade não deve recair apenas sobre as famílias. Recentemente, parlamentares do Congresso dos Estados Unidos apresentaram uma proposta de legislação bipartidária para proibir empresas de tecnologia de oferecer aplicativos de “companhia” a menores e responsabilizá-las por conteúdos sexuais direcionados a esse público.
Se você ou alguém que você conhece estiver passando por uma crise ou pensando em suicídio, é possível ligar ou enviar mensagem para o número 988, da Suicide & Crisis Lifeline, nos Estados Unidos.
Foto: milicad/iStock/Getty Images
Fonte: NPR






