Procuradora dos EUA em Massachusetts critica interferência em ações do ICE e promete investigar possíveis violações

A procuradora federal dos Estados Unidos em Massachusetts, Leah B. Foley, fez uma declaração contundente nesta quarta-feira contra o que chamou de “interferência” em operações recentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas) no estado. Foley afirmou que sua equipe irá investigar qualquer violação à lei federal e poderá apresentar acusações, se necessário.

“Esse tipo de conduta representa riscos sérios à segurança pública e dos agentes envolvidos”, disse Foley em nota oficial. “Não ficarei de braços cruzados se qualquer autoridade, policial, organização ou cidadão agir de forma a obstruir ou atrapalhar operações do ICE.”

Embora Foley não tenha citado casos específicos, sua fala veio logo após uma série de ações polêmicas do ICE em Massachusetts, incluindo a prisão da brasileira Rosane Ferreira de Oliveira, em Worcester, na semana passada. Ela foi detida em um carro descaracterizado, enquanto familiares e vizinhos tentavam impedir a ação. A filha adolescente de Rosane e uma candidata ao conselho escolar local também foram presas durante o tumulto.

A operação gerou protestos na cidade e levantou questionamentos sobre a forma como o ICE tem conduzido suas ações, muitas vezes com agentes mascarados e sem identificação clara. Grupos de defesa dos direitos civis, como o Lawyers for Civil Rights, criticaram duramente a declaração da procuradora, afirmando que o verdadeiro problema está na forma violenta e pouco transparente com que as operações estão sendo conduzidas.

“Gravar ações policiais e pedir identificação não é obstrução — são direitos constitucionais”, afirmou o grupo em comunicado. “Mas desde janeiro, muitas pessoas têm medo de exercer esses direitos diante do risco de violência ou represálias.”

Advogados de imigração também reagiram. Adrienne Vaughan, ex-presidente da Associação de Advogados de Imigração da Nova Inglaterra, chamou a fala de Foley de “perturbadora” e disse que ela tenta intimidar o público. “Não apoiamos agressões a policiais, mas também não podemos aceitar que imigrantes sejam levados por homens mascarados em carros sem identificação”, afirmou.

O advogado Matt Cameron, de Boston, foi além: “O que estamos vendo são agentes que não se identificam, em veículos não oficiais, tirando pessoas das ruas. Isso parece mais um sequestro do que uma prisão legal.”

Ele reconheceu que quem tentar impedir fisicamente uma prisão pode enfrentar acusações, mas reforçou: “As pessoas também têm o direito de filmar, de perguntar quem são esses agentes e de proteger seus vizinhos.”

O clima de tensão entre autoridades locais e federais não é novo. Em outro caso recente, um juiz de Boston foi criticado por tentar responsabilizar um agente do ICE que deteve um réu durante seu julgamento criminal. A decisão foi anulada por um tribunal federal e o promotor local se recusou a apresentar acusações contra o agente, embora tenha reconhecido que a ação violou políticas internas do próprio ICE.

O debate sobre os limites das ações do ICE e os direitos da população continua acalorado em Massachusetts, especialmente diante da postura mais rigorosa do governo Trump em relação à imigração.

Foto: Pat Greenhouse/Equipe Globe

Share this post :

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *