As recentes ameaças e tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao Canadá estão tendo um efeito inesperado na política canadense: um aumento na popularidade do Partido Liberal, atualmente no poder. Analistas políticos apontam que a retórica agressiva de Trump, incluindo a sugestão de anexação do Canadá como o 51º estado americano, impulsionou os Liberais nas pesquisas, enquanto o Partido Conservador, antes favorito, despencou.
As novas tarifas americanas sobre produtos canadenses entraram em vigor na terça-feira, e a postura de Trump parece ter mudado a percepção dos eleitores. Uma pesquisa recente da Ipsos mostra os Liberais ultrapassando os Conservadores pela primeira vez desde 2021, com uma vantagem de dois pontos percentuais. Há apenas seis semanas, os Conservadores lideravam por 26 pontos.
Darrell Bricker, CEO da Ipsos, destaca a velocidade e a magnitude da queda dos Conservadores, algo inédito em sua carreira. Ele atribui a mudança a dois fatores principais: a saída iminente do primeiro-ministro Justin Trudeau, cuja popularidade vinha caindo, e a postura agressiva de Trump em relação ao Canadá.
Nik Nanos, da Nanos Research, concorda, afirmando que a questão central para os eleitores mudou. Antes, a pergunta era se o Canadá precisava de mudança (o que favorecia os Conservadores). Agora, a questão é quem pode lidar melhor com a ameaça econômica representada por Trump.
A insistência dos Conservadores em focar na remoção do imposto sobre carbono, enquanto os canadenses se preocupavam com as ameaças de Trump, também é vista como um erro estratégico.
Uma pesquisa da Ipsos revelou que a grande maioria dos canadenses (86%) quer eleições gerais imediatas para ter um governo com um mandato forte para lidar com a situação com os EUA.
Analistas acreditam que a possível escolha de Mark Carney, ex-presidente dos bancos centrais da Inglaterra e do Canadá, como novo líder do Partido Liberal, pode fortalecer ainda mais a posição do partido.
Pesquisas indicam que, com Carney como líder, os Liberais teriam chances reais de vencer as eleições e até mesmo formar um governo de maioria, consolidando uma reviravolta política impulsionada, ironicamente, pelas ações de Donald Trump.
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