O governo do presidente Donald Trump se prepara para intensificar a fiscalização contra empresas que contratam trabalhadores sem status legal nos Estados Unidos. A informação foi confirmada por Tom Homan, conselheiro da Casa Branca para assuntos de fronteira, em entrevista concedida nesta quarta-feira. Segundo ele, as operações de fiscalização em locais de trabalho devem “aumentar significativamente” nos próximos meses.
A nova fase da política migratória do governo tem como foco não apenas os imigrantes em situação irregular, mas também os empregadores que, segundo Homan, “sabem o que estão fazendo” ao contratar trabalhadores indocumentados. “Eles fazem isso porque podem pagar menos, exigir mais e competir de forma desleal com empresas que contratam cidadãos americanos”, afirmou.
A medida vem em meio a críticas de democratas e até de aliados conservadores, que acusam o governo de ser duro com os imigrantes, mas leniente com as empresas que se beneficiam da mão de obra barata. O senador democrata Ruben Gallego, do Arizona, chegou a dizer que o governo “protege seus doadores” ao evitar penalizar grandes empregadores.
Nos bastidores, empresas de diversos setores — especialmente construção civil, agricultura, hotelaria e processamento de alimentos — demonstram preocupação com a possibilidade de sanções civis e criminais. Advogados especializados em imigração relatam que muitos empresários estão em alerta, temendo perder parte significativa de sua força de trabalho.
A tensão aumentou após agentes federais realizarem batidas em quatro empresas do setor têxtil em Los Angeles nesta semana, como parte de investigações criminais. Homan confirmou que o governo pretende aplicar sanções contra essas empresas.
Grandes companhias já começaram a alertar investidores sobre os riscos. A Smithfield, uma das maiores processadoras de carne dos EUA, afirmou em documento oficial que o aumento da fiscalização pode afetar suas operações. A DoorDash também reconheceu que uma repressão pode reduzir o número de entregadores disponíveis.
Apesar da pressão, Trump reconheceu que setores como agricultura e hotelaria dependem fortemente da mão de obra imigrante. Em uma publicação recente, ele afirmou que “mudanças estão por vir” para atender às necessidades desses setores, sugerindo a criação de um programa de trabalhadores temporários.
Ainda assim, o governo segue firme na estratégia de reduzir os chamados “imãs” da imigração, como a oferta de empregos. “Se não houver trabalho, muitos simplesmente não virão”, disse Homan.
A proposta de endurecer a fiscalização contra empregadores divide opiniões até dentro do Partido Republicano, já que muitos empresários conservadores temem os impactos econômicos. Além disso, especialistas alertam que a medida pode afetar promessas de campanha de Trump, como a redução no preço dos alimentos e o aumento da oferta de moradias acessíveis — setores que dependem fortemente da mão de obra imigrante.
Enquanto isso, o debate sobre uma reforma migratória abrangente continua travado no Congresso. A ideia de trocar a legalização de imigrantes que chegaram ainda crianças (os chamados Dreamers) por regras mais rígidas para contratação de trabalhadores estrangeiros já foi discutida, mas um acordo bipartidário ainda parece distante.
Foto: Imigração e Fiscalização Aduaneira/Reuters