Um terço das famílias em Massachusetts passa fome, aponta estudo

Um novo estudo realizado pelo Greater Boston Food Bank revelou que mais de um terço das famílias em Massachusetts ainda enfrenta dificuldades para colocar comida na mesa. Segundo a pesquisa, cerca de 2 milhões de adultos no estado não conseguem comprar alimentos suficientes ou vivem com medo de não saber de onde virá a próxima refeição.

Apesar do número alarmante, a presidente do banco de alimentos, Catherine D’Amato, destacou que a situação pelo menos não piorou em relação ao ano anterior. “A boa notícia é que conseguimos manter o nível. A má notícia é que ele não melhorou”, afirmou.

A pesquisa ouviu 3 mil moradores entre novembro e março, e 37% relataram viver em situação de insegurança alimentar — quase o dobro dos 19% registrados em 2019. Além disso, o número de pessoas que disseram ter pulado refeições por falta de comida subiu de 6% para 24% no mesmo período.

A situação é ainda mais grave entre populações vulneráveis, como pessoas negras, latinas e LGBTQIA+, e é mais comum em regiões como o oeste de Massachusetts, o condado de Suffolk e o condado de Bristol, onde metade dos moradores enfrenta insegurança alimentar.

O aumento constante no preço dos alimentos tem forçado muitas famílias a fazer escolhas difíceis. Jacqui Martinez, de Revere, que cuida da neta de 16 anos, conta que mesmo trabalhando em tempo integral, precisa decidir entre comprar comida saudável ou pagar contas básicas como luz e remédios. “Com R$ 100 no mercado, você sai com duas sacolas pequenas. Aí tem que escolher: compro espinafre fresco ou enlatado? Pago a conta de luz ou compro comida?”, desabafa.

O estudo também mostra que 58% das famílias afetadas não têm acesso regular a alimentos saudáveis, e 80% acabam comprando o que for mais barato. Muitas vezes, apenas R$ 300 a mais por mês fariam a diferença para essas famílias se alimentarem melhor.

Além do impacto direto na saúde das pessoas, a insegurança alimentar também pesa nos cofres públicos. Pessoas que passam fome têm o dobro de chances de precisar de atendimento de emergência, o que gerou quase US$ 900 milhões em custos com internações pelo Medicaid no estado.

Enquanto isso, programas federais de assistência, como o vale-alimentação (SNAP) e o auxílio para aquecimento de residências, estão sendo ameaçados por cortes e mudanças nas regras de acesso. Isso pode agravar ainda mais a situação de quem já vive no limite.

Apesar do cenário preocupante, há sinais positivos. O número de famílias que buscam ajuda em bancos de alimentos e organizações comunitárias aumentou 22% em relação ao ano passado. Programas de alimentação escolar e de verão também têm atendido até 73% das famílias com crianças em situação de fome.

O próximo passo, segundo D’Amato, é arrecadar mais recursos e ampliar o alcance do banco de alimentos. “Estamos vendo um futuro incerto, com menos apoio federal. Isso vai exigir muito mais da filantropia e do setor privado”, alertou.

A crise da fome em Massachusetts mostra que, mesmo em um estado com boa economia, muitas famílias ainda lutam diariamente para garantir o básico: comida na mesa.

Foto: Suzanne Kreiter/Globe Staff

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