Por A Associated Press – Boston Globe
O presidente Donald Trump afirmou, durante o feriado de Ação de Graças, que pretende “pausar permanentemente a migração” de países mais pobres para os Estados Unidos. A declaração, publicada em tom inflamado em suas redes sociais, ocorre após o ataque a dois membros da Guarda Nacional em Washington, D.C., na quarta-feira. Um dos soldados morreu pouco antes de Trump conversar por vídeo com tropas americanas na noite de quinta-feira.
O suspeito do ataque, Rahmanullah Lakanwal, de 29 anos, é um cidadão afegão que trabalhou com a CIA durante a guerra no Afeganistão. Ele imigrou para os EUA por meio de um programa de reassentamento destinado a pessoas que colaboraram com as forças americanas após a retirada do país. Lakanwal foi preso e está sob custódia, com ferimentos que não ameaçam sua vida. Ele é acusado de ter viajado até Washington e atirado contra os soldados da Guarda Nacional da Virgínia Ocidental, a Especialista Sarah Beckstrom, de 20 anos, que morreu na quinta-feira, e o Sargento Andrew Wolfe, de 24 anos, que permanece em estado crítico.
Em sua publicação na plataforma Truth Social, Trump defendeu que “apenas a migração reversa pode realmente resolver essa situação”. Ele ainda escreveu: “Feliz Ação de Graças a todos, exceto àqueles que odeiam, roubam, matam e destroem tudo o que a América representa, vocês não ficarão aqui por muito tempo!”
A promessa de interromper a imigração representa uma mudança significativa para um país historicamente reconhecido por receber estrangeiros. Durante seu mandato, Trump já havia adotado medidas rigorosas contra a imigração ilegal, incluindo operações de deportação que impactaram comunidades em todo o país, atingindo desde canteiros de obras até escolas. Especialistas alertam que novas deportações em massa podem afetar a economia, já que trabalhadores estrangeiros ocupam quase 31 milhões de empregos nos Estados Unidos, segundo o Bureau of Labor Statistics.
Trump afirmou ainda que a maioria dos imigrantes nos EUA “vive de benefícios sociais, vem de nações fracassadas ou de prisões, instituições psiquiátricas, gangues ou cartéis de drogas”, responsabilizando-os por crimes cometidos no país, embora a maioria desses delitos seja praticada por cidadãos americanos.
Pesquisas acadêmicas, como uma revisão publicada no Annual Review of Criminology no ano passado, contestam a ideia de que a imigração aumenta a criminalidade. Segundo o estudo, “com poucas exceções, pesquisas em diferentes níveis mostram que altas concentrações de imigrantes não estão associadas a maiores índices de crime ou delinquência em bairros e cidades dos EUA”. Outro levantamento, divulgado inicialmente em 2023 por economistas, aponta que imigrantes têm 60% menos probabilidade de serem presos do que pessoas nascidas nos Estados Unidos, tendência observada há 150 anos.
Apesar dessas evidências, Trump não demonstrou interesse em debater políticas públicas em sua longa publicação, que foi classificada pela conta oficial da Casa Branca nas redes sociais como “uma das mensagens mais importantes já divulgadas pelo presidente Trump”.
Entre as promessas feitas, Trump afirmou que pretende “anular” milhões de autorizações de entrada concedidas durante o governo de seu antecessor, Joe Biden, além de acabar com benefícios federais para não cidadãos, retirar a cidadania de quem “comprometer a tranquilidade doméstica” e deportar estrangeiros considerados “incompatíveis com a civilização ocidental”.
O presidente também afirmou que imigrantes da Somália estariam “tomando completamente o outrora grande Estado de Minnesota”, utilizando um termo pejorativo para se referir ao governador Tim Walz, democrata e ex-candidato a vice-presidente.
Após o ataque, Trump intensificou o discurso e pediu a reavaliação de todos os refugiados afegãos admitidos durante o governo Biden. Já o diretor do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA, Joseph Edlow, anunciou na quinta-feira que a agência adotará medidas adicionais para reforçar a triagem de pessoas vindas de 19 países considerados “de alto risco”, embora não tenha especificado quais são essas nações. Em junho, o governo já havia proibido a entrada de cidadãos de 12 países e restringido o acesso de outros sete, alegando preocupações de segurança nacional.
Apesar de o ataque aos soldados ter motivado a reação de Trump, o presidente não mencionou diretamente o caso em sua publicação. Questionado por um repórter se culpava todos os afegãos que chegaram ao país pelos ataques, Trump respondeu: “Não, mas temos tido muitos problemas com afegãos.”
Foto: TIERNEY L. CROSS/NYT
Fonte: Boston Globe







