Empresários em Massachusetts alertam: repressão à imigração ameaça funcionamento de restaurantes, hotéis e lares de idosos  

Com o aumento das ações do governo Trump contra imigrantes, empresários da região de Boston estão cada vez mais preocupados com o futuro de seus negócios e de seus trabalhadores. Restaurantes, lares de idosos, hotéis e pontos turísticos, que dependem fortemente da mão de obra imigrante, já sentem os efeitos das novas políticas.

Muitos empresários estão reforçando a checagem de documentos de novos funcionários e adotando sistemas como o E-Verify, do governo federal, para confirmar a situação migratória dos candidatos. Alguns criaram códigos secretos para alertar seus trabalhadores caso agentes federais apareçam. Uma dona de restaurante em um subúrbio de Boston, por exemplo, passou dias tentando proteger um funcionário que recebeu ordem de autodeportação. A situação gerou pânico entre a equipe da cozinha, com o medo de que outros trabalhadores também fossem deportados.

“Mesmo que você tenha seus documentos em ordem, eles estão revogando”, disse a empresária. “É pura intimidação, e nós não temos como combater isso.”

A apreensão é geral: muitos empresários se perguntam quem ocupará essas vagas caso os imigrantes sejam forçados a deixar o país. Em Massachusetts, onde a baixa taxa de natalidade e o envelhecimento da população já pressionam o mercado de trabalho, imigrantes vindos do Haiti e da América Latina são essenciais em setores como saúde, hotelaria, manufatura e alimentação. Um estudo publicado na revista médica JAMA estima que 40% dos funcionários de linha de frente em lares de idosos no estado são imigrantes.

O impacto econômico pode ser enorme, segundo Helena DaSilva Hughes, diretora do Immigrants’ Assistance Center em New Bedford. “Ninguém está falando sobre isso ainda porque não querem chamar atenção”, afirmou.

Desde o início de seu mandato, Trump intensificou a repressão contra imigrantes: emitiu ordens executivas limitando o acesso ao país, encerrou programas de proteção humanitária para cubanos, haitianos, venezuelanos e nicaraguenses, cancelou mais de mil vistos de estudantes e começou a deportar imigrantes que estavam legalmente nos Estados Unidos.

Recentemente, o Departamento de Segurança Interna (DHS) enviou cartas a pessoas que estavam no país sob “parole humanitário”, informando que seu status seria revogado em sete dias. “Não permaneça nos Estados Unidos. O governo federal irá encontrá-lo”, dizia a carta.

A intensidade dessas mudanças pegou de surpresa até defensores dos imigrantes. Elizabeth Sweet, diretora da Massachusetts Immigrant and Refugee Advocacy Coalition (MIRA), destacou que a velocidade dos ataques é impressionante. “O que aprendemos no primeiro governo Trump não nos preparou para a severidade atual”, afirmou.

Em setores como o de processamento de alimentos em Chelsea e New Bedford, empresários já sentem dificuldades para encontrar trabalhadores. Michael Powers, analista da agência LaborNow, em Braintree, relatou que a empresa adotou o E-Verify como política obrigatória para novas contratações, o que naturalmente desestimula candidatos sem documentação adequada.

Casos de abordagem e intimidação também se multiplicam. Jose de la Rosa, CEO da Guardian Healthcare em Jamaica Plain, contou que duas funcionárias da saúde, originárias de Cabo Verde e legalmente no país, foram paradas e interrogadas por agentes da imigração em New Bedford. As mulheres perderam seus compromissos com pacientes idosos e, após o trauma, uma delas pediu demissão imediatamente por medo de sair às ruas.

“Eu não sou contra leis de imigração. Mas, se forem aplicadas, precisam ser seguidas de um processo justo”, disse De la Rosa.

A situação também impacta o consumo. Em cidades com grande população latina, como Lynn, Chelsea e Lawrence, donos de restaurantes relatam queda de movimento, especialmente à noite, pois muitos clientes têm medo de sair de casa. Eneida Roman, CEO da organização We Are ALX, explicou: “Os restaurantes estão vazios porque as pessoas têm medo de sair.”

O turismo em áreas como Cape Cod também pode ser duramente afetado. A região depende fortemente de trabalhadores estrangeiros que vêm com vistos de intercâmbio, como o programa J-1, que já vinha sofrendo quedas de adesão e agora corre o risco de ser extinto, segundo um memorando interno do Departamento de Estado. Se isso acontecer, empregadores e turistas enfrentarão cenas semelhantes às da pandemia de COVID-19: cardápios reduzidos, horários limitados e longas filas em restaurantes.

“Os restaurantes são como o canário na mina de carvão”, disse Paul Niedzwiecki, diretor da Câmara de Comércio de Cape Cod, alertando que a experiência dos visitantes será diretamente afetada.

Muitos empresários fazem comparações inevitáveis com a crise da COVID-19. A diferença, segundo Helena DaSilva Hughes, é amarga: “Durante a pandemia, exaltamos esses trabalhadores como heróis. Agora, queremos expulsá-los dos Estados Unidos.

Foto: Erin Clark/Equipe Globe

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