Por Diana Novak Jones – Reuters
Um tribunal de apelações dos Estados Unidos deve ouvir nesta segunda-feira os argumentos de famílias que tentam reabrir processos contra a fabricante do Tylenol, Kenvue, alegando que o uso do medicamento estaria relacionado ao desenvolvimento de autismo em crianças. O movimento ganhou força após o então presidente Donald Trump e autoridades de saúde do governo promoverem publicamente essas alegações em uma coletiva de imprensa realizada em setembro.
Os autores das mais de 500 ações buscam reverter a decisão de um tribunal de primeira instância, que em 2024 rejeitou os processos ao criticar a metodologia dos especialistas apresentados pelas famílias. Segundo pesquisadores, não há evidências sólidas que comprovem uma ligação entre o uso de Tylenol ou seu princípio ativo, o paracetamol, e o autismo. A Kenvue, por sua vez, afirma que o medicamento é seguro e que não há relação entre o uso de paracetamol e o desenvolvimento da condição.
Um porta-voz da Kenvue declarou que a empresa concorda com a decisão do tribunal de primeira instância sobre os especialistas. Já os advogados das famílias argumentam que o juiz não considerou adequadamente as opiniões técnicas apresentadas. Eles também enviaram uma carta ao tribunal de apelações após a coletiva de imprensa da Casa Branca, pedindo que as declarações de Trump fossem levadas em conta.
Ainda não está claro se uma eventual decisão favorável à retomada dos processos poderá impactar a aquisição da Kenvue pela Kimberly-Clark, anunciada no início de novembro por mais de US$ 40 bilhões. Segundo documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, possíveis alegações sobre a relação entre Tylenol e autismo ou TDAH durante a gravidez não seriam motivo para cancelar o acordo, previsto para ser concluído no próximo ano.
Paralelamente, a Kenvue enfrenta uma ação movida pelo procurador-geral do Texas, Ken Paxton, que acusa a empresa de ocultar riscos do uso do medicamento por gestantes. Na última sexta-feira, um juiz texano negou o pedido de Paxton para bloquear o pagamento de um dividendo de US$ 398 milhões aos acionistas da Kenvue, previsto para este mês, e também rejeitou a solicitação para que a empresa alterasse temporariamente sua estratégia de marketing.
Em decisão de dezembro de 2023, a juíza Denise Cote, responsável pelos processos centralizados contra a Kenvue em Manhattan, afirmou que os especialistas das famílias não esclareceram as complexidades e inconsistências dos dados apresentados. A apelação foi apresentada em abril de 2024, e desde então as famílias buscam reverter a decisão judicial.
Foto: REUTERS/Hannah Beier
Fonte: Reuters







