As vendas no varejo dos Estados Unidos cresceram de forma expressiva em março, registrando o maior avanço mensal em mais de dois anos. Segundo dados do Departamento de Comércio, houve um aumento de 1,4% em relação a fevereiro, quando o crescimento havia sido de apenas 0,2%.
O principal motivo por trás desse salto nas compras é o temor dos consumidores diante das novas tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump. Muitos americanos correram para garantir produtos antes que os preços subam com os aumentos tarifários programados.
O setor automotivo liderou o crescimento, com vendas de veículos e peças subindo 5,3% em março. Lojas de materiais de construção também tiveram alta significativa, de 3,3%. Em contrapartida, houve queda nas vendas em postos de gasolina (-2,5%), lojas de móveis (-0,7%) e redes de departamento (-0,3%).
As vendas em restaurantes e bares também aumentaram, com alta de 1,8% no mês e 4,8% em relação ao ano anterior. Especialistas apontam que, mesmo com a preocupação sobre os rumos da economia, os consumidores ainda valorizam experiências como sair para comer fora.
Economistas alertam, no entanto, que esse ritmo de consumo pode não durar. “Estamos vendo uma corrida às compras por medo de preços mais altos, mas esse impulso deve perder força em breve”, afirmou James Knightley, economista-chefe internacional do ING.
As tarifas impostas pelo presidente Trump incluem 25% sobre aço e alumínio, 25% sobre produtos do México e Canadá fora dos acordos comerciais, 145% sobre importações da China, 25% sobre carros (com tarifas adicionais sobre autopeças previstas), além de uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações. Um grande aumento tarifário entrou brevemente em vigor em 9 de abril, mas foi adiado para julho. Trump também anunciou isenções temporárias para alguns eletrônicos e indicou que novas tarifas poderão ser aplicadas a semicondutores, produtos farmacêuticos, cobre e madeira.
Embora parte dessas tarifas tenha sido adiada para julho, o impacto já começou a ser sentido. Há preocupação entre economistas de que essas ações possam levar a um cenário de “estagflação” — quando há inflação alta, crescimento econômico fraco e aumento do desemprego, uma combinação difícil de lidar para o banco central americano (Fed).
Com o consumo representando cerca de 70% da economia dos EUA, o comportamento dos consumidores nos próximos meses será fundamental para definir os rumos da economia do país.
Foto: David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images